Você está grávida ou pensando em engravidar e cogita a possibilidade de um parto domiciliar? Então esse post é para você!
Puxa a cadeira, porque está longo, mas tenho a certeza que vai te ajudar muito a construir essa experiência.
Parto domiciliar no Brasil
Como no Brasil uma parcela muito pequena da população opta por parto domiciliar, afinal culturalmente aqui se nasce no hospital e além disso a assistência ao parto domiciliar não está disponível pelo SUS ou pelos convênios, não há um estudo sobre a segurança do parto domiciliar no Brasil, e por isso é importante escolher uma equipe experiente de parto domiciliar que baseie suas prática em evidências científicas atualizadas.
Um casal que esteja pensando na possibilidade de ter seu bebê em casa, ao invés de ir para o hospital, terá que estudar, se informar, tomar decisões para então construir essa experiência. Quer saber como viabilizar seu parto domiciliar? Deixo aqui minha dicas para vocês, ok? (Depois faço um outro texto pra quem quer ter um parto humanizado hospitalar).
1) Comece o pré-natal o quanto antes, com um bom profissional. É importante manter sequência das consultas e fazer todos os exames necessários. Gostaria de dizer que você pode começar o pré-natal com qualquer obstetra do convênio, mas infelizmente tenho atendido gestantes que estão com pré-natal muito mal conduzido e que pode impactar na elegibilidade para o parto domiciliar. Se você quer um parto domiciliar, o ideal é fazer o pré-natal com a equipe que vai atender o seu parto domiciliar o quanto antes.
2) Frequente grupos de gestantes. Aqui em Campinas nós temos várias atividades para gestantes e mães no Espaço Mulheres Empoderadas. E temos roda de parto domiciliar pelo menos uma vez por mês. Se puder, faça o Estamos Grávidos. É um intensivo de preparação do casal para o parto, amamentação e maternidade que vai te trazer muitas ferramentas e recursos para você construir sua experiência de parto. Vale a pena todo tempo e valor que vc investir nessa preparação antes do parto!
3) Faça uma consultoria perinatal. E é super importante agendar uma ou mais consultas para orientação perinatal. Uma boa e experiente orientadora perinatal vai analisar o quanto você tem de informação e preparação para construir a experiência de parto que você deseja (talvez essa profissional precise te fazer perguntas para que VOCÊ primeiramente entenda o que está buscando. Sim, pode ser que você chegue no consultório e não consiga explicar muito bem o que está buscando. Talvez você “só” não queira outra cesárea. “Só” não queira sofrer violência obstétrica. Saber o que não se quer é importante. Mas mais importante é saber o que você realmente quer!) e vai te fornecer recursos para que você possa construir e trilhar esse caminho. Ela vai te fazer perguntas que podem te deixar inquieta, te tirem da zona de conforto. Vai te apresentar ferramentas que te auxiliem a construir o seu plano de parto. Ela é a profissional chave “antes do parto”. No Brasil, algumas doulas e parteiras acumulam essa função. É uma das coisas eu MAIS AMO fazer. Ofereço a consultoria perinatal para os casais que me procuram para acompanhá-los no parto, e os resultados são fantásticos.
4) Tenha uma Doula: A doula é a profissional que vai estar com você no grande dia. O dia que você vai conhecer seu bebê. Ela é a profissional que estará com você a partir da hora que atravessar as ondas do trabalho de parto está bastante desafiador. A doula vai te apoiar nas suas escolhas, pode oferecer métodos não farmacológicos de alívio de dor usando técnicas de relaxamento através do toque, da respiração ou visualização e outras técnicas. Ela que vai cuidar da sua hidratação, da sua energia, do seu conforto. É aquela que acredita em você até quando nem vc acredita mais. O bebê nasceu, o papel da doula acaba. Mas algumas doulas oferecem o serviço de apoio pós-parto. Essa é uma outra função que algumas doulas no Brasil acumulam. O que você está buscando? Tudo isso é importante ser discutido com a doula na primeira consulta.
5) Escolha suas Parteiras: As parteiras qualificadas são as profissionais com formação e responsabilidade clínica sobre o binômio mãe-bebê. São preparadas para realizar assistência ao pré-natal, ao parto e pós parto de mulheres e bebês saudáveis, principalmente se esse parto for em ambiente extra-hospitalar. As evidências são claras sobre os desfechos. Se quiser ver a revisão sistemática, clique aqui -> https://www.cochrane.org/CD004667/PREG_midwife-led-continuity-models-care-compared-other-models-care-women-during-pregnancy-birth-and-early
Acompanhando seu pré-natal, a parteira vai te dizer se você é elegível ao parto domiciliar. Se sua gestação, você e seu bebê estão aptos para o parto em casa. Fazer pré-natal, poder acompanhar a evolução da gestação é um dos trabalhos que mais gosto de fazer. Quer saber como é um pré-natal com parteira? Vem! Vou amar te receber.
Além disso, não dá pra ter um parto domiciliar só com doula. Tem que ter parteira. Tem que ter duas parteiras. O modelo de segurança de parto domiciliar europeu preconiza duas parteiras. Em caso de intercorrência com mulher e bebê no pós-parto imediato uma presta os cuidados à mãe e a outra presta assistência ao bebê. Na grande maioria dos casos, não vai precisar usar nenhuma das duas. Mas se precisar, você estará muito bem assistida. Eu sempre converso com os casais que vou atender sobre equipe mínima de parto (sim, mínima!) fazendo uma analogia com seguro de automóvel e plano de saúde. Quem tem, também paga para não usar, não é mesmo?
As profissionais que atendem parto domiciliar no Brasil são Parteiras Qualificadas. Ou seja, obstetrizes ou enfermeiras com especialização em obstetrícia. Se não tiver formação especializada, não pode atender parto em casa. Se tiver formação especializada e experiência, pode atender parto em casa.
Amo estar nos partos e poder acompanhar as mulheres sensacionais que vi desabrochar durante toda a construção do seu processo do empoderamento, além de ser uma delícia poder ver a amamentação e maternagem se materializando.
6) Leia livros, relatos, assista vídeos de parto domiciliar. Mas em hipótese nenhuma romantize o parto. Parto é sangue, suor e lágrimas. É como correr uma maratona. Pode ser que doa tudo, que seja muito desafiador, que você fique exausta, que você pense em desistir. Pode ser que você odeie seu acompanhante, sua doula e suas parteiras. Então não é como os vídeos de parto com musiquinha fofa e que foram brilhantemente editados para terminarem em no máximo 5 minutos. Parto pode demorar meia hora ou 2 dias. E é importante você e quem vai te acompanhar saiba disso.
7) Escolha muito bem quem vai estar no seu parto. Você quer mais pessoas acompanhando seu parto? Uma amiga? A sogra? A irmã? Sua mãe? Hum…. então arraste essas pessoas pros grupos com você. Tem casais que fazem o Estamos Grávidos aqui no Espaço Mulheres Empoderadas e no mês seguinte mandam as avós virem fazer também. Porque esses casais entendem que as pessoas convidadas pro parto, precisam fazer o mesmo caminho que eles fizeram. Precisam entender como é o processo. Que pode demorar. Que pode ser desafiador. Que muito provavelmente vai ter sangue, suor e lágrimas. E xixi. E vômito. E cocô. Senão, pode ser que você tenha indicação de transferência por “sofrimento agudo do acompanhante”. E isso você não quer, certo?
8) Fale com sua equipe sobre desfechos indesejados. Ninguém quer falar sobre isso. Mas é preciso. Acredite em mim. Mudança de planos antes do parto por alguma intercorrência no pré-natal, transferência pré-parto, transferência pós-parto, UTI, bullying do hospital que vai receber você em caso de transferência, morte…. é horrível falar disso? É. Mas é preciso desromantizar o parto. Eu converso (ou pelo menos tento, pois tem casal que não abre brecha e ponto) sobre desfechos indesejados com os casais que faço consultoria perinatal. É preciso falar sim, e planejar plano B, C e D se necessário. Uma boa equipe de parto faz isso com o casal.
9) Construa um plano de parto e um plano B e C bem sólido e realista. Não deixe pra fazer isso com 40 semanas. Eu recomendo que com 34/35 semanas esses planos já estejam bem amadurecidos para a gestante ou casal. Tenha em mente que plano de parto não deve conter apenas o que você quer ou não quer no parto. Um bom plano de parto contém estratégias pra antes do parto. Acredite em mim. Nesse país o mais difícil é entrar em trabalho de parto espontaneamente. Mesmo com equipe humanizada Gisele? Sim!
10) Fale com sua equipe sobre os limites da equipe e sobre os seus limites. Transparência da gestante/casal com a equipe e vice-versa é fundamental. Como sua equipe trabalha? Quais são as indicações de transferência? Quais as taxas de transferência da sua equipe. Quais intervenções que ela já fez em parto domiciliar? Faria de novo? Em quais situações?
11) Faça um planejamento financeiro. A assistência ao parto domiciliar, ou hospitalar humanizada, não é oferecida pelo SUS nem pelos convênios. Então sim, as profissionais que se dedicam exclusivamente a isso e atendem de forma autônoma cobram consulta e cobram a disponibilidade para o parto. São horas de estudo, especialização, e uma hora (ou mais) inteirinha (no caso de consulta pré-natal ou consultoria pré-parto) dedicada a te conhecer, para entender o que você deseja para juntas construírem um caminho para um parto e nascimento seguro e respeitoso. São semanas à disposição 24h por dia para atender seu parto. É a remuneração pelo trabalho e disponibilidade. Além disso, é assim que essas profissionais (me incluo aqui) pagam as contas, mantém consultório aberto, se atualizam, etc. Pode ser que você encontre profissionais que não cobram primeira consulta. Pode ser que essas profissionais trabalhem por hobby, ou pode ser que estejam construindo sua própria experiência e ainda não se sintam confortáveis em cobrar. Mas essa não é a regra. A regra é: você está buscando um serviço especializado, uma assistência individualizada, por poucos profissionais que nadam contra a corrente e ele será cobrado. Assim como quando se contrata qualquer outro serviço. Serve pra cabelereira, pra jardineira, pra médica e também para orientadora perinatal, doula e parteira. Negocie, parcele se precisar. Mas procure essas profissionais. Não dá pra querer um parto domiciliar e ver as parteiras e doula só no dia do parto.
Tenha em mente que se virar transferência a equipe será paga da mesma forma. Se virar cesárea também. Porque ninguém paga por um produto. Paga-se a disponibilidade. Quando um casal me contrata eu fecho minha agenda. Não viajo, não participo de cursos, congressos. Fico com celular 24h ligado, de plantão. A janela de plantão para parto é muito longa. E o que é pago é essa disponibilidade. Converse com a sua equipe. Entenda muito bem quais são as cláusulas de reembolso do valor pago. Se existe reembolso e em quais situações. Se você quer um parto domiciliar e não tem condições financeiras de tê-lo, converse com as equipes. Existem equipes que disponibilizam sua agenda eventualmente para atendimento social ou para receber em forma de permuta. Já permutei parto com marido que era programador de site, com marido personal trainer, com irmã esteticista, com gestante maquiadora e com gestante cozinheira (toda sexta feira eu ganhava uma torta delícia rs). Mas até para permutar ou pra entrar numa vaga de parto social, é preciso planejamento. Converse. Negocie. Há formas e formas de pagamento. Mas lembre-se que esse é o trabalho da equipe. E que só a equipe sabe tudo que está por trás.
Tem mais dicas? Manda pra mim! Aproveita e me segue no Insta, no Face e também segue a página do Espaço Mulheres Empoderadas. Quer meu acompanhamento na sua gestação ou parto? Me manda um whatsapp (19) 9-8186-1169 que agendamos uma consulta. Vou amar te conhecer.