Foi em maio, num encontro do Ishtar que nos conhecemos. Depois nos encontramos por acaso, em julho no forum de Movimentos Sociais da UFSCAR, onde participei da mesa de Saúde apresentando o então, recém fundado MAHPS. E lá estava ela. Interessada, participando do debate, com sua barriga ainda tímida. Me abordou no intervalo dizendo que gostaria muito de ter um parto humanizado e uma doula. Me chamou de “sua doula”. Me enviava SMS sempre carinhosos, “minha doula querida”. Era a menina-moça-mulher gestando. Na flor de seus 18 anos. Mas com uma maturidade que muita mulher de 30 não tem.
O desejo era um parto domiciliar. Mas ela e seu companheiro ainda estão construindo sua vida em conjunto e não poderiam neste momento investir em uma equipe para o parto domiciliar.
Conversamos sobre a possibilidade de ir para uma casa de parto, ou para a Unicamp. Visitou a Casa de Maria e a Casa de parto de Sapopemba. Se sentiu muito acolhida nesta ultima e então decidiu. Maria Valentina nasceria na Casa de Parto de Sapopemba.
Tivemos alguns encontros antes do parto. Foram 6 no total. 3 em sua casa.
Com 39 semanas foi à consulta de rotina no posto de saúde e saiu de lá triste e nervosa. Sofreu assédio moral. O obstetra que a acompanhava foi grosseiro porque ela não aceitou fazer o exame de toque. A desrespeitou na frente dos alunos que estavam ali assistindo, em frente a seu acompanhante. Resolveu que não voltaria mais até lá. Então a companhei até o hospital maternidade de referencia aqui da cidade por duas vezes para ouvir o coraçãozinho da pequena Maria e atestar que estava tudo bem. Já estava com 40 semanas pela data da ultima menstruação.
Fomos criando uma rede de mulheres. Pessoas novas entraram nesta história. A Gleise foi em uma visita na casa de Mariana junto comigo para que elas se conhecessem. Gleise e eu estamos trabalhando em dupla. Fernanda, amiga de SP e também Doula, que apresentou o mundo da humanização para Mariana, a acompanhava às consultas da Casa de Parto, que e tornaram frequentes a partir da 37a semana.
Conversamos, ela estava preocupada que talvez a Gleise não pudesse ir para Casa de Parto porque ela queria que o fotógrafo (que seria o motorista também) fosse e talvez fosse muita gente. Disse à ela para não se preocupar, pois o que tivesse quer ser, seria.
A ultima visita “programada” em sua casa, foi com 39 semanas e 3 dias. Preparei para ela um delicioso escaldapés com ervas, acendi um difusor e um insenso na casa que ficou com um gostoso aroma de canela e tangerina, fiz uma massagem relaxante e um quentinho chá de canela com gengibre para aquecer. Com tanta coisa gostosa, Mariana entrou em prodomos. Cada contração vinha forte avisando que seria um intenso trabalho de parto.
No domingo, com 40 semanas e 2 dias o trabalho de parto começou. As contrações ainda tímidas, começaram na ida para casa de parto, para consulta de rotina. Consultou e a obstetriz ainda brincou: acho que você volta hoje hein? Mas ainda sem regularidade. Voltou para Sorocaba, conversamos muito por telefone. Quando foi 11 horas da noite, as contrações ritmaram e não paravam mais, não importasse a posição que ela adotasse. Foi para o chuveiro, para a bola. Me ligou às 3 da manhã da segunda-feira. Conversamos, fui ao seu encontro. Realmente as contrações estavam regulares e duravam quase um minuto.
Uma querida amiga e obstetriz estava de plantão e a avaliou. Estava em TP, fase latente ainda. Era umas 4 e meia da manhã. Então Mariana decidiu ir pra SP para evitar o transito que inevitavelmente seria cruel em SP numa segunda-feira. Juan, o marido, ligou para o amigo-fotografo-motorista para avisar que estava na hora. Ele estava doente, e não poderia nos acompanhar. Então liguei para Gleise, e ela na hora topou ir junto. Fomos no carro dela, ela dirigindo, o Juan na frente e eu doulando a Mari atrás. Saímos de Sorocaba era quase cinco horas da manhã da segunda. Chegamos lá às 6:40. As contrações mantiveram regularidade no carro de 4 em 4 minutos a viagem inteirinha. Chegamos na casa de parto as contrações desregularam um pouco. Mas a intensidade era muito boa. A fase latente foi lenta…. mas intensa. Eu e Gleise fizemos muitas massagens, a acompanhamos ao chuveiro, usamos aromas para relaxa-la e para ajudar no trabalho de parto. Ela tomou homeopatia.
As oito da manhã, a enfermeira que estava acompanhando foi se despedir e a enfermeira do novo plantão se apresentou. Nova mudança de “ambiente”. Nova mudança no padrão de contração.
Lá pelo meio dia a Fernanda (amiga dela que também é doula) chegou. Mari ficou muito feliz em ve-la. Fomos caminhar ao sol, para energizar. Mariana conseguiu almoçar um pouco, após muita insistencia nossa. Sabíamos que o trabalho de parto ainda tinha muitas horas pela frente, e ela não tinha dormido nem se alimentado bem.
Fernanda trouxe cromoterapia e auriculopuntura para ajudar. Toda vez que Mariana ficava no centro do “círculo de doulas” ela conseguia relaxar e ir pra partolandia. Saída do círculo, as contrações desregulavam. Então ela ficou neste círculo assim por um bom tempo.
Ali no círulo empunhavamos nossas mãos de forma a canalizar a energia toda para ela. Foi incrível sentir aquela energia toda. Nos revezavamos na massagem. Gleise conduziu-a ao relaxamento usando a técnica de visualização. Foi muito bonito.
Era mais ou menos umas 5 da tarde, e Mariana começou a brigar. Ahhh como adoro quando uma grávida em trabalho de parto começa a brigar. Começou a se irritar com tudo e com todos…. Então nós 3 – as doulas – nos entreolhamos e começamos a rir por dentro! E pensamos: Agora vai!!! Era a transição. Nenhuma posição estava boa, ela queria caminhar, depois não queria, queria chuveiro, depois não queria…. foi uma fase bem longa…..
Pouco mais de 7 horas da noite oferecemos para ela sentar no banco de parto. Ela já relatava pressão, vontade de empurrar. Então chegou a obstetriz e veio fazer um novo toque. E atestou 9 cm!! Mas Mariana já estava muito cansada. Muito cansada. E apesar de não ter a dilatação total, já sentia vontade de fazer força. De empurrar. E ficou ali, empurrando, forçando. Até resolveu mudar de posição. Foi para a cama.
Às 08 horas da noite trocou o plantão. Chegou uma nova enfermeira para nos acompanhar. Mariana estava tão cansada que dizia que estava doendo muito, que não estava mais aguentando. Então olhei bem fundo nos olhos dela, e disse com firmeza algo como: “Mariana, você não está com dor. Você está cansada. Não está na hora de fazer força ainda. Você precisa recuperar energias. Era isso o que você queria, lembra? Agora você tem que se ajudar. A Maria está ótima e você está acabada. Vamos descansar. Pare de querer fazer a Maria nascer agora. Ainda não está na hora.” A nova enfermeira fez coro e então Mariana quiz ir pra banheira. Corremos para esvaziar a banheira e encher com água quente. A obstetriz sugeriram esquentar água no fogão e colocar na banheira já cheia que seria mais rápido. E assim foi. Em poucos minutos Mariana estava na banheira. E foi uma mudança total em todo trabalho de parto. Naquele momento ela não teve mais medo. Não teve mais pena de si. Não teve dúvidas que iria parir. Ela repetia: eu consegui não é? E nós diziamos: Claro que sim Mari!!! Agora falta pouco, mas vc precisa de energia para concluir!
Então, ela ficou ali na banheira. Novamente falei para ela não fazer força. Para relaxar e deixar as contrações virem. Que o corpo dela faria a força necessária. Que ela não precisava se cansar antes da hora. E então ela ouviu. E relaxou. E quando vinha uma contração ela sentava e vocalizava. Não sei quanto tempo durou isso. Mas foi muito bacana. Ela começou a assumir seu parto. Sozinha. Ela escolhia as posições. Ela não estava mais tensa. Ela estava no comando.
Nós doulas nos revezavamos. Uma tirava foto, a outra segurava a mão para apoia-la na banheira, a outra segurava o pé. A Fer começou a jogar água nela com um balde, e foi muito relaxante.
Não sei dizer ao certo quanto tempo ela ficou ali na banheira. Acho que umas 2 horas no mínimo. Mariana perguntou: Quanto tempo ainda falta? E a querida obstetriz respondeu: Mariana veja você mesma. Se toque. E Mari colocou a mão em sua vagina e se emocionou! “Estou sentindo!! Está muito perto!!! Será que é a cabecinha mesmo??” – e o Juan também colocou a mão para sentir. Foi um momento de pura emoção. O primeiro cafuné da Maria Valentina foi a mamãe Mariana quem fez.
E Maria Valentina, que foi concebida na Bahia, não tinha mesmo pressa nenhuma de chegar em São Paulo, cidade de ritmo alucinante. Foi assim. Como foi concebida. Na calma da Bahia, no amor de seus pais. Uma chegada lenta, intensa, emocionante. Foi assim, a Mariana Valente, guerreira, leoa, dona de seu corpo e de seu parto. Num círculo de mulheres envolvendo a nova família apareceu o cabelinho negro e encaracolado de Maria Valentina. E em mais algumas contrações, às 23:24 do dia 07/11/2011 eis que ela deixa o corpo de sua mãe e mergulha na água quente da banheira. E chega rosa, cheia de dobrinhas, cabeluda e com uma grossa camada de vérnix protegendo seu corpinho quente. Foi emocionante. Foi intenso. Foi único.
E com o nascimento de Maria Valentina, nasceu uma nova Mariana. MARIANA VALENTE. Assim como a filha. A Mariana mulher. A Mariana Mãe. A Mariana guerreira. Uma Mulher Empoderada.
Mariana, muuuuuuuuuito obrigada por confiar em mim como sua doula, obrigada por permitir participar deste momento tão importante da vida de vocês!!!
Obrigada especial ao Juan, companheiro da Mariana e papai da Maria Valentina, à Gleise minha parceira nas doulagens, e à Fernanda que conheci só no dia do parto da Mariana, mas que parecia que já nos conhecíamos há muito tempo.
Querida parceira Gi… Foi realmente uma grande emoção participar deste momento tão magico. Ter você ao meu lado , junto com Gleise , foi uma verdadeira escola..aprendi demais e senti a verdadeira sintonia da entrega, entre todas nós.. Fico muito honrada por ter apresentado este mundo a Mariana, e principalmente por ela ter conseguido realizar um sonho.. Viva a nossa força, viva a Guerreira Mariana, e o papai carinhoso Juan. Viva o serviço lindo que prestamos, viva a Maria Valentina , que chegou nos trazendo uma paz incrível.. Estou muito feliz, muito grata e totalmente entrega a este trabalho…
Beijos a todas as mulheres !
Lindo, lindo… Mariana, PARABÉNS por toda a passagem e crescimento!
Bjos
simplesmente perfeito…parabens pelo trbalho,por todo carinho dedicado a essa familia e principalmente pra esse ser de luz que teve coragem ,força e determinaçao desde o inicio ..minha flor Mariana Hanickel 🙂
Que momento magico, muito lindo, parabens pelo trabalho de vcs, é uma luz muito grande, e um privilegio vcs participarem de momentos tão especiais qnto esse né? Parabens Meninass e Viva a Maria Valentina e a Grande Mamãe Mariana!!!!!!!!!!
AHO!!! HARE KRSNA!!! MUITA GRATIDÃO!!!! TUDO MUITO LINDO!!!
NÃO PRECISA NEM FALAR QUE É O MELHOR MOMENTO DA MINHA VIDA!!
E EU ATÉ CORTEI O CORDÃO UMBILICAL…
Que legal!!!!!
Meus parabéns pela força e coragem de passar por todo o processo.
E parabéns para as doulas também pq pelo que vi foram muitas horas, né?
Beijos ansiosos para parir também…
Mi
Parabéns a todas! Lindo trabalho! Ah, se todo parto fosse assim….
Parabéns Mari, pela chegada da filhota!!!
Muita saúde p/ nova família!!
Beijocas,
ain meu Deus! Q momento lindo… q maravilhosa as palavras descrevendo esse parto. Parabens a todos! Que Deus continue iluminando voces para conceberem mais e mais isso as mulheres. Muita Saude e felicidade a essa familia linda… q a mais nova integrante desse mundo… Maria Valentina!
Amei!
Um beijo*
Nossa Gi q lindo.Estou muito emocionada!Que bom que deu tudo certo,fiquei super animada com a Casa de parto é uma boa opção pra mim,que estou querendo dar um irmãozinho pro Matheus, e não sei se vai dar tempo(R$)de parir em casa!
Minha primeira Doula é a Carla que me fez conhecer esse universo maravilhoso da Humanização do Parto,a segunda é uma fonte de inspiração,coragem e força,Gisele Leal,mas antes preciso ver se ela aceita,rsss,bjo parabénsss!
OI Rafa!! Com muito prazer querida :))
Beijos
Muito lindo!!! Me emocionei ao ler seu texto… Parabéns!!!!
Parabéns Mariana!! Guerreira!!! Empoderada!! Que Deus abençoe muito a vida da Maria Valentina! Bjs