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Esse louco desejo de ser mãe… de novo (PARTE 2)

Por 19 de novembro de 20122 Comentários


Esse post é uma continuação  “Esse louco desejo de ser mãe…. de novo – Parte 1” . 
por Gisele Leal

Os anos passaram, fomos morar juntos e sempre, sempre,  ele vinha com essa história de encomendarmos um bebê….  Queria uma família grande, dizia que o que havia encantado quando começamos a namorar era a família grande e unida que minha mãe tinha formado. Adorava falar das reuniões de família na casa da minha avó…. Só que eu, apenas conseguia me lembrar da gestação difícil (sangramento, inibidores, repouso, cerclagem,  mais repouso que terminaram em  uma cesárea não desejada) e tinha arrepios. Engravidar de novo??? Nem pensar! Aí eu me lembrava das mamadeiras para lavar e esterilizar (peguei um nojo de mamadeira!!)  e postergava cada vez mais essa questão. Cheguei a propor que adotássemos uma criança de uns 3 anos. Ele não topou, disse que já havia adotado a Beatriz, que a amava mas que queria saber como era acompanhar um barrigão crescendo, um bebezinho recém-nascido.

Tivemos uma crise muito grande em 2006 e, às vésperas de eu completar 30 anos,  nos separamos.  Estávamos juntos há 5 anos. Nos víamos apenas às 4ª feiras quando eu levava a Beatriz para ficar com ele (eles iam ao cinema, ao parque, se divertiam enquanto eu ia num curso a noite). Ele sempre tentava uma reconciliação e eu me esquivava. Não queria.

Estava numa fase muito minha. Fiz dieta, emagreci  15 kg, fiquei linda, loira, sexy.

Na véspera de Natal,  dois meses após a separação, tivemos um “flash back”. Nos encontramos, nos amamos, foi mágico. Foi lindo. Depois desse dia, mais um encontro em janeiro, mas continuávamos separados.

Sexta-feira de carnaval, acordei para ir trabalhar e tudo girou. Me senti muito mal, deitei no sofá, não consegui tomar café da manhã. Fui levar a Beatriz à escola e cheguei super tarde ao trabalho.  Foi então que me dei conta que a menstruação estava atrasada. Não podia ser! Não naquele momento da minha vida! Estava em ascensão profissional, separada, magra, linda, minha vida estava perfeita. A Bia já estava com 9 anos, ela era uma super companheira e eu tinha retomado minha vida social. Saía para dançar, me divertia. Como assim, grávida novamente? NÃAAAAAAAAAAAOOO. Aquilo não podia ser verdade. Mas era. Na 2ª feira de carnaval, comprei um teste de farmácia que em UM SEGUNDO apontou positivo. Chorei. Chorei. Chorei. Lembro de ter guardado aquela notícia pra mim por um tempo. Não muito, mas por um tempo. Até que um dia o Cesar apareceu e eu contei. Ele, ficou super feliz. Era tudo o que ele queria. A essa altura eu já estava curtindo a idéia de ter um bebê. Nove anos depois, era como se fosse a primeira vez, e ainda tinha um monte de fantasmas para exorcizar. A gravidez difícil que, segundo o primeiro obstetra, repetiria- se em novas gestações (por incompetência istmo-cervical)

Não consegui ter uma gestação leve. Tive um pequeno sangramento com 3 meses, e depois disso voltamos a morar juntos. Peguei meu prontuário da primeira gestação (com todas as 8 internações que eu tive em 8 meses) e levei ao obstetra, agora em Sorocaba. Ele nem se importou, e aquilo pra mim foi o fim. Estava tão fragilizada com a idéia de ter outra gestação-problema que não consegui curtir minha gravidez. Engordei 27 kg. A única certeza que tinha era que o parto seria normal! A experiência com a cesárea tinha sido tão horrenda que não podia sequer me imaginar indo pra faca novamente. Fiz um curso preparatório do hospital amigo da criança, que incentiva parto normal. Até Shantala eles ensinaram no curso. Pronto. Tinha certeza que o parto seria normal.

Mas minha  intuição não me deixava ficar tranqüila… eu troquei umas 6 ou 7 vezes de obstetra nessa 2ª gestação. Sempre fazia questão de reforçar que eu queria um parto normal. E sempre ouvia dos obstetras: “claro, porque não? Sua cesárea já tem 9 anos! Veremos! Só saberemos na hora”. Alguns (que eu já descartava na primeira consulta) diziam: “minha filha para que se preocupar com isso? Cesárea  é muito melhor! Vc sentiu dor no pós-parto porque não foi comigo sua cesárea! Deixe comigo”.

Além disso eu sentia um medo terrível de não amar aquele novo filho. Minha relação com a Beatriz era tão forte, que parecia não haver espaço para amar outra criança. Tive esse medo até o dia em que ele nasceu. Ou melhor, foi nascido.

Em resumo acabei numa segunda cesárea às 37 semanas por oligodramia (baixo liquido amniótico). Chorei, me desesperei, não podia aceitar outra cesárea. Entrei chorando no centro cirurgico, passei muito mal durante toda cirurgia, só me senti melhor quando peguei meu bebê.

O pós foi tão horrível, muito  pior que da primeira vez, que eu saí do hospital com a certeza que JAMAIS engravidaria novamente. Pelo menos dessa vez o alojamento foi conjunto, meu bebê não recebeu fórmula, apesar das dificuldades eu pude amamentá-lo e cuidar dele.  O vínculo se criou muito, muito mais fácil.  Ele foi levado para mim menos de duas horas após a cesárea, pois havia nascido gemente e estava em observação no bercinho aquecido.  Me entregaram o Arthur apenas de fraldinha, enroladinho num cueiro de flanela. Assim que o peguei, ainda com o vernix, com o cheirinho de liquido amniótico, que senti sua pele quentinha junto à minha, me apaixonei. Foi  amor à primeira vista. Ali tive certeza que eu podia sim, amar mais um filho! Foi uma sensação que eu não tinha experimentado quando nasceu a Beatriz, afinal haviam nos separado por longas 16 horas.

Como nessa  época eu morava numa cidade em que eu não conhecia ninguém, finalmente passei a exercer a maternidade integralmente, não era mais a filha, a sobrinha, a neta. Eu era a mãe do Arthur e da Beatriz. E me sentia muito orgulhosa disso.

Para ajudar –  passada a fase do peito sangrando e a fase das cólicas – minha vida era um mar de rosas. Eu tinha  a família de comercial de margarina. Marido, filha mais velha que adorava ajudar, nenhuma sogra, mãe, avó, tia para perturbar ou se intrometer na criação dos meus filhos. Para melhorar, o Arthur era um anjo. Dormia sozinho, mamava, mamava, mamava, dormia, dormia, dormia. Um bebê muito tranqüilo, calmo.

Teve alguns episódios de alergia que nada curava. Dei sorte de encontrar uma homeopata que acertou de primeira com ele e nunca mais esse menino teve nada. A ultima vez que ele tomou qualquer remédio alopata e que ficou doente ele tinha 9 meses. Nunca mais.

O Arthur foi um bebê muito calmo, muito bonzinho, saudável, dormia muito bem, e eu pensava: Nossa… se eu soubesse que seria assim não teria demorado tanto para ter o 2º.  Não dei mamadeira pro Arthur.  O trauma das mamadeiras estava superado. Porque todo mundo acha que bebê precisa de mamadeira? Me libertei.

Foi uma maternidade muito, muito mais leve. Longe de ser perfeita, mas muito mais gostosa, sem crise, com pouca culpa…  tanto que quando o Arthur estava com um ano e meio, meu primeiro sobrinho nasceu, e aí brotou uma louca vontade de ser mãe novamente….

(continua…)

2 Comentários

  • Karen Herrera disse:

    Nossa Gisele!!! Pensava que só eu sentia esse horror da dúvida de ser capaz de amar um segundo filho, o amor pelo meu primeiro é tão gigantesco que realmente sua fala cabe bem “parecia não haver espaço para amar outra criança”. Sigo seu blog a mais de um ano, e gostaria de agradecer por compartilhar suas vivências, acho que você nem imagina como é importante para mim e outras tantas mulheres encontrar esta ilha de sinceridade, generosidade e principalmente respe respeito ao maternidade.

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