“Contrate uma doula e chegue parindo”.
Esse é o “conselho” que mais vejo nos grupos virtuais do Facebook, quando uma gestante diz que quer um parto normal mas que não pode pagar a equipe.
Será que é isso mesmo? Basta contratar uma doula?
Que tal fazermos uma analogia com um maratonista. Ele entra num grupo virtual de corredores, e diz: “quero correr”. E então chovem conselhos: teu corpo foi feito para correr! Confie nele! Correr é fisiológico!! Contrate um personal trainer, e chegue correndo no dia da maratona!
Quais as reais chances que este aspirante a maratonista tem de vencer esta maratona?
Ele tem as mesmas chances que qualquer outra pessoa que tente correr e esteja nas mesmas condições físicas e emocionais que ele: com ou sem personal trainer. O personal trainer vai ser importante para acompanha-lo na corrida (ou o técnico) desde que este maratonista tenha se preparado. E hoje, no Brasil, parir é como uma maratona. Não basta querer. Não basta ser fisiológico. Não basta, na maioria das vezes, que nosso corpo tenha sido feito para parir. E não basta ter uma Doula no dia do parto.
A Doula, está para a gestante, assim como o técnico está para o maratonista.
Ela pode dar informações, mostrar caminhos, munir a gestante com ferramentas que a ajudarão na preparação para o parto. E pode estar com ela no grande dia. Mas nem sempre, contratá-la é suficiente.
Por traz dessa afirmação: “contrate uma Doula e chegue parindo”, há ainda algumas fantasias subliminares que muito preocupam às ativistas do parto e nascimento humanizados.
1) Se a gestante contratar uma doula e chegar parindo no hospital, significa que essa gestante passou toda fase ativa do trabalho de parto sem monitoramento dos batimentos cardíacos fetais, o que vai contra às recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde para um parto e nascimento seguros.
2) Se a gestante contratar uma doula que ausculte esse bebê em casa até o momento de ir para o hospital, essa doula está praticando exercício ilegal da profissão, pois não é função da doula auscultar os batimentos cardíacos fetais.
3) Se a gestante contratar uma doula para chegar parindo no hospital, das duas uma: ou essa gestante está contratando uma doula que faz exames de toque para verificar a dilatação ou ela está contratando uma doula que “acha” que vai leva-la no momento certo ao hospital e portanto está contratando uma fantasia.
Por tudo isso, é preciso reforçar para quem sabe e informar quem não sabe:
1) Doula não é profissional de obstetrícia, portanto não deve fazer ausculta dos batimentos cardíacos fetais e, muito menos, realizar exame de toque.
2) Quando uma Doula se propõe a realizar estas funções, ela mostra para a gestante que ela mesma não sabe bem qual o seu papel como Doula, que é de promover apoio emocional e físico para essa mulher durante o trabalho de parto.
3) Se ela não se sente capaz de promover apenas apoio emocional e físico, então ela não deveria vender seu serviço como “Doula” mas como qualquer outras coisa como “assistente de obstetra”, “assistente de parteira”, etc.
4) Se esta Doula faz isso a pedido de algum obstetra ou parteira, mesmo sabendo que isso não faz parte de suas atribuições, e faz porque não quer perder aquela doulagem, ou não quer perder a indicação do obstetra ou parteira, então essa Doula está corrompida por um sistema que nem deveria existir, já que o movimento pela humanização do parto luta contra um sistema já instalado.
5) Se a Doula se responsabiliza por “saber a hora certa” de levar esta gestante ao hospital, então essa Doula “rouba” o protagonismo da mulher/casal durante o trabalho de parto, pois todas as decisões, inclusive a de ir para o hospital, deve ser da gestante/casal.
Poderia continuar elencando vários fatores envolvidos nesta questão, porém o mais importante e que tem que ficar muito claro para gestantes, casais, obstetras, parteiras e principalmente para as próprias Doulas é para que serve a Doula?
Poxa, se a Doula não faz toque e não faz ausculta, então o que ela faz?
A doula apoia.
A doula conversa.
A doula escuta.
A doula faz chá, suco, comida.
A doula propõe posições para alívio da dor.
A doula propõe métodos de respiração, visualização para alívio da dor.
A doula faz massagem para alívio da dor.
A doula enxuga a gestante quando sai do chuveiro.
A doula coloca um travesseiro entre as pernas quando a parturiente quer deitar para descansar.
A doula segura a bolsa de água quente para aliviar a dor da parturiente.
A doula cuida.
A doula oferece água, suco, bolachinha para a gestante ter energia para todo o trabalho de parto.
A doula encoraja.
A doula acredita na parturiente, quando nem ela própria acredita mais.
A doula a lembra que aquela é menos uma onda, menos uma contração, e que logo o bebê estará nos braços dela.
A doula acolhe o choro e o riso.
A doula conhece todo processo do trabalho de parto e parto para passar tranquilidade para o casal.
A doula tira fotos, coloca música, arruma a casa, coloca comida pro cachorro, dá colo pra uma outra criança do casal.
A doula enxuga o banheiro, ajuda a mulher a se ajoelhar, a se levantar. Empresta seus braços, pernas, joelhos quando os da parturiente estão muito exaustos.
A doula faz aquilo que ninguém mais faz. Seja por ansiedade, por não estar focado apenas na mulher, por não saber o que fazer.
E quando todos ao redor da parturiente (companheiro, parteira, obstetra) estão tensos, a doula olha no fundo dos olhos daquela parturiente e sorri. E a acolhe. Em sua dor e amor. Em sua grandeza e fraqueza. Em seus sonhos e expectativas. Porque essa Doula não tem que estar preocupada com aspectos técnicos do processo do parto. Ela tem que estar inteira apenas e unicamente para a mulher que nela confiou.
E se a Doula se propuser a fazer procedimentos técnicos, quem irá fazer a função da Doula?
Por Doulas que sejam apenas Doulas. E se orgulhem disso.
Revele-se doula! Capacite-se em um maravilhoso curso de imersão. Acesse: http://revelandodoulas.mulheresempoderadas.com.br