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Adelir, foi forçada a fazer uma cesárea. E daí?

Por 2 de abril de 2014Um comentário

adelir2poster-1Desde ontem estou tentando escrever sobre isso.
Não consegui.
Vou tentar. Essa história mexeu demais comigo.
Adelir, foi arrancada de sua casa, grávida do seu 3o bebê, escoltada por policiais armados até o hospital onde obrigaram-na a ser submetida a uma cesarea. A alegação: ela tinha duas cesáreas (sim é verdade). E o bebê estava pélvico (nenhum exame anterior a esse fato havia detectado bebê pélvico). Ainda sim, caso o bebê estivesse pélvico ela deveria ser informada dos riscos de um parto pélvico e aí sim, consciente dos riscos e da habilidade ou não da equipe que  iria atende-la, em atender um parto pélvico, optar ou não por uma cesárea.  A decisão deveria ser dela em conjunto com a equipe. Mas não foi isso que aconteceu.
Vejam o depoimento da doula de Adelir, publicado em seu perfil no Facebook: “Vieram buscar a gestante em casa, com policiais armados, ambulância e mandato judicial para preservar a vida do nascituro, a pedido da médica, dra burra que além de não saber fazer parto pélvico (dado SUPER duvidoso), disse que o bebê nasceu mal com circulares de cordão e mecônio mesmo chorando e respirando bem, depois de negar ao pai o direito (concedido por uma lei federal) de acompanhar a cirurgia! Estivemos no hospital durante a tarde para uma avaliação com direito a eco obstétrica de urgência e tudo onde constataram placenta e líquido amniótico normal, bebê com sinais vitais bons e mãe em perfeita saúde. A mãe se recusou a ser internada, assinamos um termo de responsabilidade e fomos liberadas. A noite, em franco trabalho de parto, luzes apagadas, velas acesas só esperando o momento certo de ir ao hospital batem na porta, um bando de pessoas loucas com argumentos vazios. QUESTIONEI: quando médico mata bebês dentro do mesmo hospital a justiça não trabalha com tanta rapidez!!! Estou em luto, por mais um parto roubado no Brasil e o terceiro pra essa mesma mulher, guerreira e batalhadora que teve o direito sobre seu próprio corpo arrancado a ferro, por quase 10 policiais armados!
LUTO ETERNO!”
O blog Cientista que  Virou Mãe publicou: Quem decidiu isso? Duas obstetras mulheres. Quem autorizou a busca armada da gestante? Uma juíza.
A obstetriz e ativista pela humanização do parto Ana Cristina Duarte divulgou seus nomes:
– juíza: Liliane Maria Mog da Silva
– obstetra que atendeu gestante à tarde e quis interná-la: Andreia Castro
– obstetra citada no mandado de concessão de liminar, condução e intimação: Joana de Araújo
Eu que, quando estava grávida da minha 3a filha buscando um parto normal após duas cesáreas, passei por ameaças desse tipo que nunca se concretizaram. Não consigo escrever sobre  o quão grave é essa situação. Sobre o quão grave é  retirar de uma cidadã o direito sobre seu próprio corpo. Não consigo expressar minha    indignação com esses médicos DESATUALIZADOS e que se acham DEUS e portanto não podem ser questionados. à Andreia Castro, Joana de Araújo e Liliane Maria Mog  da Silva: Vocês não devem conhecer a palavra SORORIDADE.
E o que você tem a ver com isso?
Maíra Libertard, enfermeira obstetra, parteira escreveu em seu Facebook ontem ” isso é uma catástrofe para os direitos humanos, para os direitos reprodutivos, para os direitos das mulheres, para a autonomia da mulher sobre seu corpo, para o movimento pela humanização do parto, uma catástrofe sem precedentes. O feto não tem direitos enquanto ele está no útero de sua mãe. Se ele tiver, alguém pode utilizar desse argumento para impedir, através da força policial, que as mulheres optem por parto em casa, por parto pélvico, por parto normal de gêmeos, por parto normal de prematuro, por parto normal após cesárea, por parto normal em qualquer condição que a obstetrícia baseada no achismo considera indicação de cesárea. Lutar pela autonomia das mulheres sobre seus corpos de forma radical (incluindo o aborto e, me julguem, a cesárea eletiva) é lutar contra esse tipo de anomalia”.
Esse caso mexeu demais comigo e não consigo escrever como essas mulheres maravilhosas escreveram. O máximo que consegui, entre lágrimas foi gravar um desabafo. Que logo estará disponível.
LUTO.
 

Um comentário

  • Thais disse:

    Compartilho da sua indignação…. Se existe poder político suficiente pra fazer esta cesárea a força, sob alegação de proteção da vida da mulher….. TODOS os homens deveriam ser obrigados e FORÇADOS ao exame de próstata, independente da sua vontade…. sob alegação de proteção dos homens e das famílias, tão constantemente afetadas por este câncer…

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