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18 de Outubro. Dia do médico.

By 18 de outubro de 20122 Comments

Por Gisele Leal

Me deparei com dezenas de parabéns ao dia do médico na minha timeline do Facebook hoje.

E  me peguei pensando. Será mesmo uma data para parabenizar?

Vamos falar sobre a hegemonia no modelo de assistência médica,  que dita as ordens, as regras e que por ser uma ideologia fortemente difundida em nossa sociedade, é aceita tranquilamente em todas as suas formas de violência,  sutilmente veladas, e absorvidas como protocolos rotineiros que devem ser aplicados.

Vamos falar sobre o projeto de lei que está prestes a ser aprovado, o Ato Médico, que silencia profissionais da saúde e pacientes e coloca por terra o modelo multi e  interdisciplinar amplamente reconhecido e consolidado em diversas culturas no mundo.

Vamos falar sobre o modelo hospitalocêntrico, biomédico, cartesiano e a desqualificação das práticas curativas culturais e familiares que descarta qualquer forma de tratamento que não envolva a figura do médico, qualquer forma de assistência que não seja hospitalar, que enxerga o indivíduo como um órgão doente, e não como um ser integral dotado de história, emoções e cultura.

Será mesmo uma data para comemorar?

Na foto, a obstetra Mariana S. (de azul) trabalha em equipe com a parteira Giovana F. e com a doula Gisele L. (atrás da parturiente Erica A.).

No dia do obstetra eu postei aqui um agradecimento aos profissionais humanizados maravilhosos que atendem as mulheres com respeito aos seus desejos e saem de cena para que ela seja a protagonista de seu parto. E eles sabem que esse dia é deles. Deixo aqui então a minha homenagem a esses médicos de verdade. Esses que não se colocam acima de seus pacientes como Deuses. Esses que sabem escutar, acolher, empoderar seus pacientes e respeitar o ser e a história que há por trás de cada um dos indivíduos que ele atende. Esses que se atualizam constantemente e pautam suas ações em evidências científicas atualizadas. A estes, o meu muito obrigada e meu sincero desejo de que vocês continuem perseverantes neste modelo humanista mesmo quando o mundo parece conspirar para que vocês desistam. Continuem!

Porém, pensando bem, este ano encontro um motivo para parabenizar os profissionais médicos que mudaram radicalmente a minha trajetória de vida.

Esse ano eu agradeço aos 21 obstetras que me disseram que eu NÃO poderia entrar em trabalho de parto aqui em Sorocaba, pois meu útero romperia com uma unica contração por causa das duas cesáreas anteriores.

Agradeço aos outros 7 obstetras que visitei, também em Sorocaba, quando estava grávida do Arthur e, especialmente, ao que me decretou a cesárea desnecessária.

Agradeço em especial ao senhor Paulo G., obstetra de Campinas que fez as 3 cesáreas desnecessárias da minha mãe e a minha primeira cesárea desnecessária.
Sem vocês, eu jamais teria ME DESAFIADO e superado os MEUS LIMITES. Eu jamais teria desafiado o SISTEMA. Sem vocês eu nunca teria entendido a matrix em que está mergulhada toda nossa sociedade. Sem vocês eu não entenderia a hegemonia do modelo de assistência médica.
Sem vocês eu jamais seria quem eu sou hoje.
Obrigada por me transformarem na mulher forte e ativista, disposta a ajudar quem quiser ajuda.

Marcha do parto em casa que reuniu mais de 1000 pessoas em SP e quase 5000 pessoas em todo o Brasil!

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