O mês de março começou recheado de ocitocina. Sexta-feira, dia 02, por volta de 22:00 Patricia me liga. Diz que estava esquisita, que as contrações estavam diferentes. Era a primeira vez que ela me dizia isso verbalmente. Todas as outras vezes haviam sido em forma de mensagens no facebook. Estava no meio de uma reunião com Melania e Ric sobre o Encontro Nacional de Parteria Urbana. Me despedi, pois previ que a noite prometia. Orientei Patrícia a ir para o chuveiro, na bola, durante uma hora pelo menos, e que me ligasse em seguida. Liguei para Gleise ficar de sobreaviso. Após uma hora, Patrícia nem me ligou. Mandou ma mensagem no Facebook dizendo que as contrações haviam desregulado, “não foi dessa vez”, escreveu. Mesmo assim arrumei minha bolsa de Doula e fui dormir. Disse ao marido: Ela vai ligar de madrugada, então vou aproveitar dormir um pouco.Dito e feito. As 3:30 da manhã ela me ligou, disse que não estava conseguindo dormir. Eu disse que já iria para lá, e ela duvidosa respondeu: Não é melhor eu ir pro chuveiro antes? Vai que não é? Disse pra ela que fosse. E comecei a ligar para Gleise que não atendia o telefone hahaha. Tentei mais algumas vezes e ela atendeu. Voou para minha casa e fomos.
Chegamos na casa da Patrícia, dona Mari – a mãe – havia preparado um bolo delicioso e um café pois não conseguia dormir. Patricia estava saindo do chuveiro. Com uma carinha boa, trabalho de parto sim, mas fase latente ainda. Fomos até seu quarto, apagamos a luz, colocamos música, acendemos a vela e ela sentou-se na bola. Eu atrás dela massageava sua lombar durante as contrações que impressionantemente se intensificaram. Ela nos olhou e disse: “foi só vocês chegarem e as contrações ficaram fortes!!” hahaha. Rimos.
Muita ocitocina rolando, contrações realmente fortes, regulares e longas. Não havia dúvida que Patrícia estava em trabalho de parto. Mas ela ainda custava a acreditar.
Por volta de 6:30 da manhã, mandei um torpedo para obstetra Mariana saber que estávamos lá e que Patricia estava em trabalho de parto. Pensei: ela está dormindo, quando acordar ela lê. Ainda não era necessário avisá-la. Mas imediatamente ela respondeu. Foi tão engraçado. E liguei para ela. Ela estava saindo da casa de uma parturiente, que estava em trabalho de parto também. E me disse: não conte nada à Patrícia.
Expliquei para ela como estava a dinâmica das contrações e ela disse que iria pegar as coisas dela e ir para lá para avaliar.
Mari deve ter chegado por volta de 7:30 eu acho. Sempre bem humorada, linda e disposta! Como é gostoso trabalhar com pessoas assim!! 🙂 – Avaliou e Patricia já estava com 5 pra 6 cm. Muito bom! Passou orientações, disse pra Pati tomar um sol, andar lá fora e após comer um bolinho da dona Mari e levar um para o maridão, se despediu.
Nesse meio tempo, Patricia pediu que ligássemos para o Gustavo, pai da Laura. Aliás ele já sabia e já tinha ligado algumas vezes. Mas como ainda estava no comecinho, dissemos que ele esperasse que nós avisaríamos o momento dele vir para participar do parto. Na verdade esse momento, quem decidiria seria a Patricia.
O trabalho de parto foi se intensificando cada vez mais, e Patricia se entregava. Dançava, acocorava, rebolava, ia pra bola, comia abacaxi, comia bolo, bebia água. Se hidratou e se alimentou para ter energia para todo o trabalho de parto. Foi quando percebi que as contrações estavam muito próximas, com 1 minuto e meio de intervnalo no máximo. Olhei pra Gleise e imediatamente ela entendeu que deveríamos ir para o hospital. Peguei uma toalha no varal para Patricia sair do chuveiro, juntei todas as nossas coisas. A dona Mari tinha saído fazer compra e ainda não tinha voltado. Pegamos as malas da maternidade, e em meio a tudo isso várias contrações. A Gleise ligou para o Gustavo novamente para avisar que estávamos indo para a maternidade. O Eduardo, irmão da Pati, com seus fones de ouvido parecia estar alheio a tudo. Mas é claro que não estava 🙂
Mandei uma mensagem para obstetra Mariana dizendo que estávamos indo para a maternidade. Ela respondeu que deixaria o pessoal avisado, que era para irmos para um quarto.
Desci arrumar o carro, tirar os cadeirões dos bebês, colocar toalhas no banco traseiro. Quando estávamos saindo, dona Mari chegou. Expliquei para ela que estávamos indo, porque se esperássemos mais ficaria desconfortável para Patrícia ir no carro com contrações mais próximas uma da outra, mas que ela podia ir com calma. Ela disse que ia tomar um banho e seguiria em seguida.
Fui dirigindo e Gleise foi atrás com a Patrícia, cuidando dela a cada contração. Apoiando, massageando, tranquilizando.
Chegamos na maternindade em 20 minutos, pouco mais de dez da manhã. Deixamos o carro com o manobrista. Não vou nem entrar em detalhes sobre a internação. Mas o de sempre. Equipe despreparada para receber uma mulher em trabalho de parto. Hospital não tinha leitos, estavam todos ocupados com as cesareas agendadas. Colocaram a Patricia num apartamento no andar “errado”, que nem lençol ainda tinham colocado nas camas. O pior. O chuveiro não saía água. Só saía água do chuveirinho, e não esquentava. Hora ficava frio, hora fervia. Um caos. O clima ótimo e propício que estava em casa nem de perto estava naquele quarto de hospital e as dores logo ficaram muito fortes. Patrícia estava tensa, e as dores óbviamente ficaram mais fortes.
Logo Gustavo e dona Mari chegaram. Quando o Gustavo chegou, Patrícia sentiu-se mais aliviada. O quarto estava muito quente, e além das massagens usávamos um leque para abaná-la. Ensinei ao Gustavo massagens para o alívio da dor na lombar e ele começou a fazer as massagens.
A obstetra Mariana chegou toda de rosa. Conversou com a Patrícia, a encorajou. O exame acusou oito centímetros. Mari nos passou algumas orientações e subiu para o centro obstétrico para receber uma outra parturiente que tinha pedido analgesia.
Pedi um milhão de vezes para troca-la de quarto. Pois aquele quarto não tinha chuveiro. As dores estavam cada vez mais intensas e o chuveiro ajudaria muito! Não sei em que momento, finalmente arrumaram um quarto com chuveiro e ventilador, mas ainda no andar errado. Após ir para o chuveiro tudo ficou melhor. Pati conseguiu relaxar um pouco e nós também ficamos mais tranquilas.
Pouco mais de meio dia, ela começou a fazer força instintivamente. Fazia barulhos gruturais, e então avisei a Mariana. Mari veio, e sugeriu que subíssemos para o CO, pois como estávamos em outro andar, o bebê não poderia nascer no quarto. Burocracias, segundo o protocolo hospitalar, se o bebê precisasse de alguma assistência o hospital exigia que estivesse no mesmo andar do CO.
Fomos ao CO, nos “paramentamos”, apenas dona Mari ficou no quarto. Patricia já estava com dilatação total, apenas com um rebordinho, e um pouquinho de edema de colo que tornava mais lento o progresso do trabalho de parto. Mas poxa vida! Tinha sido muito rápido até ali! Primigesta com um trabalho de parto onde toda a dilatação aconteceu em pouco mais de oito horas estava perfeito! Só que a ida ao CO acabou novamente interferindo na evolução do processo. Um ambiente frio, gelado, cheio de máquinas, e que embora colocássemos música, e tentássemos deixar o ambiente mais acolhedor, não fazia muito efeito sobre a Patrícia. Gustavo lá, firme e forte o tempo todo, participando, massageando, apoiando a Pati, embora sem falar nada hehehehe.
Dançando pra fazer a Laura descer….
Virando de um lado para o outro, deitada pra ver se o “edema de colo” reduzia. No Centro Obstétrico com o Gustavo.
Banheira no quarto certo, a mãe da Patrícia providenciou que todas as coisas que estavam no quarto “errado” subissem. Ajudei a Patricia a colocar o avental do hospital para que pudessemos ir até o quarto. E fomos. A banheira já estava posicionada, enchendo.
Patrícia entrou na banheira, e então tudo mudou. O gemido de desespero, virou gemido de entrega. Ela se entregou. Respirava, apertava a mão do Gustavo. Virava e revirava dentro da banheira para encontrar uma posição. Até que resolveu ficar apoiada nos joelhos com a cabeça no colo do Gustavo. Como ela estava bem, Gustavo estava participando, resolvi sair do banheiro. Ficamos eu e Gleise do lado de fora. Pedimos para a mãe da Patricia comprar um suco pra gente, e lá se foi a Dona Mari.
De repente entra no quarto uma moça. Perguntou da Patrícia, explicamos que ela estava na banheira, e a moça se identificou como cunhada do Gustavo. Dissemos que ainda poderia demorar um pouco e ela ficou toda feliz em saber que estava tudo bem e se foi. Dissemos que avisaríamos assim que a Laura nascesse.
A Mariana chegou no quarto, deu uma espiada viu que estava tudo bem, disse que ia avaliar a dilatação e pediu para eu ir pegar o sonar que tinha ficado no CO. Saí para pegar o sonar, encontrei com a mãe da Patricia e a mãe do Gustavo e pedi para elas não entrarem no quarto naquele momento, pois a Patrícia seria examinada (pensei na situação, a Patrícia sendo examinada e as duas entrando…. seria constrangedor…. então achei melhor pedir para elas esperarem). Mariana ouviu os batimentos da Laura e depois foi ver a outra parturiente. Devia ser umas 14:20.
Dei mais uma espiada na Patricia, a Gleise saiu não me lembro pra que. A Patricia gritou: Giiiiii, o círculo!!!!!!! Lembro de ter dito pra ela: “Deixa a Laura vir Pati!”. Mandei um torpedo pra Mariana dizendo que ia nascer.
Até então a Patricia estava naquela posiçao de joelhos, com a cabeça no colo do Gustavo. Mariana chegou e ela ficou acocorada, apoiada no Gu. E foi a Mariana chegar que a Laura coroou. Ana Paula, a neonatologista também chegou. E ficamos ali, só esperando. Como o Gustavo estava dando o apoio para ela, entãE o aproveitei filmar. Gleise se colocou num cantinho que não sei como ela coube e tirou as fotos.
Não sei precisar quanto tempo foi. Apareceram os cabelinhos da Laura, depois a cabecinha. Lembro que a Patricia pediu pra Mariana “tira ela daí!”. E a Mariana explicou pra ela que era só esperar mais uma contração. E assim foi. Mais uma contração, Mariana disse pra Patricia: “Quer pegar sua filha Pati?”. Mas Patrícia ainda estava imersa em tanta ocitocina…. mal conseguia expressar o que queria. E pediu para Mariana pega-la. Mais uma contração e Laura deixava de vez o corpo de sua mãe, 14:54 minutos do dia 03 de março de 2012.
Ana Paula lembrou Mariana de vira-la de barriguinha pra baixo antes de tira-la da água. E assim Mariana fez. Virou-a de barriguinha pra baixo, ainda dentro dágua e a entregou pra Patrícia. Toda redondinha. Rosinha. Foi o primeiro bebê que eu vi nascer cor-de-rosa. Ficou ali, grudadinha no colo da mamãe, com o olhinho aberto. Gustavo mudo. Não sabia se ria ou se chorava. Eu chorei muito de tanta emoção. Todos nós nos emocionamos!
Ana Paula, a neo, deu uma espiadinha e ficou tranquila. Laura estava ótima. Um cisco de bebê, mas muito forte! Então nem interrompeu este momento. Deixou os dois ali reconhecendo a pequena e rosa Laura.
E os 3 ficaram ali por muito tempo. O cordão da Laura pulsou por bastante tempo ainda. Mais de 15 minutos com certeza. Cheguei a verificar duas vezes e o cordão ainda estava ali, firme e forte pulsando.
Saí do banheiro, fechei a porta e deixei os dois ali. Curtindo a cria. Patrícia que quando engravidou era apenas uma menina de 19 anos, agora renascia como mulher. Como mãe. Guerreira!
O quarto estava alagado. A banheira havia tampado o único ralo do banheiro, e até que eles saíssem de lá, não havia muito o que fazer… Então sentamos, exaustas. Eita trabalho de parto intenso! Cansativo. Mas muito, muito bonito! Acompanhar a trasnformação da Patrícia foi incrível. Cada etapa. Cada minuto. Cada contração.
E esse relato é daqueles para mostrar que não tem “perfil” de mulher para parir. Todas podem, desde que queiram realmente. E a Patricia foi assim. Ela quiz. Ela decidiu. Ela se informou, foi atrás de patrocínio e conseguiu! Teria viajado mais de 100 KM para parir na casa de parto em São Paulo, que era seu primeiro plano. Mas a vó paterna da Laura ofereceu a equipe de presente e ela pode parir na mesma cidade em que mora.
Mesmo sendo muito nova, mesmo vivendo longe do pai da sua filha, mesmo morando com a mãe que havia tido duas cesáreas porque tinha medo do parto normal. Mesmo sem grana pra bancar a equipe. Um perfil ótimo para uma cesárea eletiva. Mas ela fez diferente das meninas da sua idade e com o seu perfil. E se tornou mulher! Passou pela etapa de transformação, de maturação da sua sexualidade. O parto. Sem nenhuma droga, sem nenhuma intervenção. Um parto totalmente fisiológico, como tem que ser.
Pati, você sabe o carinho que tenho por você. E muito orgulho também! Obrigada por me eleger, em meio a tantas! Tentei até te apresentar doulas muito legais de Campinas, mas você insistiu que eu fosse sua Doula. E foi um prazer imenso estar ao seu lado neste momento. Obrigada por confiar em mim, e por permitir que eu pudesse estar ali, no seu primeiro momento como mamãe da Laura fora da barriga 🙂
E esse foi apenas o primeiro passo que você deu a caminho da sua independência, como mãe. Você agora não é apenas a filha, mas a mãe. Esse papel é seu. E você é a melhor mãe que a Laura pode ter 🙂
Desejo um caminho de muita luz, amor e entrega para vocês!
E na visita pós-parto, Laura nem quis acordar pra dar o ar da graça… estava lá, toda de rosa, dormindo profundamente após um super mamazinho 🙂
Ah Gi, que lindo. Não tenho palavras para agradecer o quanto vc foi e continua sendo importante nessa nova fase da minha vida. As pessoas não entram na nossa vida por acaso. Muito obrigada por tudo, tudo o que fez e continua fazendo por nós.
Beijoos!
Gi! Pra variar nos emocionando! Lindo relato!!
Impossível nao chorar! Essa princesinha mudou a vida de todos e vc faz parte dessa mudança! Obrigada!!
Parabéns a toda equipe! A confiança no trabalho de vocês fez com que apoiássemos a decisão desta menina-mulher tão especial.
Foi um parto muito lindo!