Por Byanca, mãe e protagonista do seu VBA2C!
Depois de duas cesarianas desnecessárias, quando engravidei pela terceira vez, a única certeza que tinha desde o inicio é que não iria deixar isso acontecer novamente. Iria estudar e me preparar para não aceitar qualquer desculpa e cair novamente em uma cirurgia desnecessária. Assim fiz, busquei profissionais que acreditam em um parto humanizado e que mulheres após cesárea podem sim parir de forma natural.
Eu e meu marido nunca descartamos a possibilidade de ser necessária uma nova cesárea, principalmente em caso de risco para a minha vida e do bebê.
Trabalho de parto: dia 05-01-2013, acordei indisposta e com um pouco de cólicas, mas não dei muita importância, pois estavam acontecendo os famosos pródromos desde antes do natal. Passei a manhã e a tarde normais com minha família. Mais ou menos às oito e meia da noite começaram as contrações com um pouco de desconforto, mas fiquei em dúvida, pois estavam muito próximas, então continuei vida normal e esperei para ver se iria mesmo engrenar o trabalho de parto.
Por volta das onze da noite as contrações estavam de dois em dois minutos, então liguei para Raquel (doula) e relatei como estava e perguntei se poderia ser trabalho de parto ou pródromos. Ela então me recomendou que relaxasse em um banho de chuveiro quente de uma hora e meia, pois se fossem pródromos sumiriam, assim fiz. Fiquei apenas quarenta minutos quando ainda no chuveiro minha bolsa rompeu com presença de líquido claro. Meu marido ligou imediatamente para a Raquel, que logo em seguida estava em minha casa. Aí sim, tive certeza de que o trabalho de parto ativo tinha iniciado. Bolsa rota, perda de tampão mucoso e contração de um em um minuto, agora bastante doloridas. À meia noite entramos em contado com a Dra. Ellen (obstetra), que disse já estar me aguardando no PS do Madrecor (hospital). Pedia a todo instante para meu marido colocar as coisas no carro, pois não queria voltar pra casa.
Por volta de uma e pouco da manhã chegamos ao PS e fui examinada pela Dra. Ellen. Dilatação cinco para seis, útero fino e bem trabalhado, bebê ainda alto com 130 batimentos por minuto, porém um pouco de mecônio. A Dra. Ellen achou mais seguro realizarmos o exame de cardiotocografia e me perguntou se preferia fazer no PS ou no quarto. Preferi no quarto. Fui andando e a cada contração eu agachava. Juliano e Raquel me ajudavam a levantar novamente.
Já no quarto, enquanto a Dra. Ellen arrumava o aparelho parar realizar o exame, Raquel e eu fomos para o chuveiro. Tentamos a bola, mas não me senti confortável, então a Raquel me sugeriu o banquinho de parto, assim fizemos. Creio que não ficamos nem uma hora e o bebê nasceu ali mesmo no chuveiro. As três ultimas contrações foram extremamente fortes e muitíssimo doloridas, de perder o fôlego, quando senti uma imensa vontade de fazer força e então coloquei a mão e senti a cabeçinha dele. Disse para a Raquel “O menino tá saindo!”. Mais que depressa ela chamou meu marido e a Dra. Ellen que estava no quarto arrumando o aparelho. Então foi tudo muito rápido, acho que fiz umas duas forças e o Gustavo nasceu, “escorregou”, não senti circulo de fogo nem nada, só ele escorregando e foi ótimo, eu nem acreditava, parecia surreal, um sonho bom, trinta e nove semanas e eu ali com meu bebê nos braços às duas e quarenta da manhã do dia seis de janeiro de dois mil e treze, pesando três quilos e duzentos e quinze gramas, medindo quarenta e oito centímetros, apgar nove, nem chorou só resmungou, não precisou ser aspirado, bebê super saudável.
Meu marido com ajuda da Dra. Ellen pegou nosso bebê e o colocou em meus braços, ele cortou seu cordão enquanto o Gustavo se aninhava no meu colo. A saída da placenta também foi bem rápida e fácil, quase nem fiz força e ela já estava lá, do lado de fora após alguns minutos do nascimento. Não senti nada para expelir.
Como foi um parto muito rápido, tive laceração de períneo e perdi uma quantidade considerável de sangue, então me senti mal alguns minutos após o parto. Permiti que levassem o Gustavo, acompanhado do meu marido para fazer os procedimentos no berçário, pois devido à rapidez do parto, não deu para preparar nada. Agradeço a Dra. Kathleen, pediatra que assistiu meu filho após o nascimento por ter respeitado minha vontade não realizando nenhum procedimento desnecessário e ter permitido que ele rapidamente voltasse ao quarto. Dra Ellen e Raquel ficaram comigo e cuidaram para que eu me reestabelecesse. Cada uma em sua função.
Agradeço a Dra Ellen por ter me acompanhado, me respeitando e passando segurança e também a Raquel, por suas orientações muito importantes durante a preparação para o parto, por me confortar com seu jeito meigo e carinhoso e ao meu marido, por ter sonhado comigo, estudado e acreditado que eu poderia sim PARIR!
SONHO CONCRETIZADO COM MUITA ALEGRIA!!!
“Deixe-me à natureza, por favor!
Não me rasgue, não me deite, não me injete! Não me obrigue a ver um médico. Quero parir como uma loba, uma índia da mata. Deixe-me de quatro, deixe-me de cócoras.
Por favor!
Eu quero gritar, gemer, me contorcer! Deixe-me parir em paz. Liberte-me para a espontaneidade de trazer meu filho ao mundo. Deixe-me dar o exemplo de luta, fé, instinto, naturalidade! Deixe-me ser primitiva, me agarrar à terra, enraizar.
Deixe-me aceitar e compreender a dor, vivenciá-la como um processo de amadurecimento. Deixe-me lidar com a minha sombra.
Não extraia o fruto meu! Não o arranque de mim à força! Não me corte em 7 camadas para que meu filho veja a luz! Não me apresente alternativas ao medo, não me anestesie a vida!
Eu quero meu filho massageado pelas minhas entranhas, quero sentir sua passagem, o peso de seu corpo, o círculo de fogo!
Deixe meu espírito dançar.
Sou capaz de secretar meus próprios hormônios, sou capaz de transcender a dor, ser involuntária e fisiológica!
Sou capaz de parir! Sou capaz de ser mulher!”
Camila Chaguri