Relatos de Parto

Relato de Parto Domiciliar – Luciane e Pedro – Sorocaba

Por 9 de setembro de 20103 Comentários

A Lu foi uma das participantes que me recebeu com todo o carinho nas reuniões do Ishtar. Estávamos gestando com apenas algumas semanas de diferença, e o Pedro e a Catharina nasceriam bem próximos um do outro. Acontece que o Pedro foi apressadinho e a Catharina não queria saber de sair da barriga, o que gerou um tempinho maior entre o nascimento deles.
A Lu tinha programado parir com a Priscila (minha parteira também), mas como o Pedro adiantou e a Pri não estava no Brasil, teve a assistencia da Márica com a Vilma Nishi. O relato dela é muito interessante, porque ela não teve um trabalho de parto como os de “protocolo” e se tivesse ido ao hospital, provavelmente teria caído numa cesárea. ADORO histórias como a dela!! E fiquei muito feliz dela ter me enviado o relato para publicar aqui no blog, e dividir com vocês um delicioso relato de nascimento domiciliar!
Boa leitura e preparem-se, pois tenho certeza que a emoção irá brotar….
Gisele
Por Luciane Rodrigues
Antes de começar a descrever o meu relato de parto propriamente dito, quero destacar que o Pedro foi muito desejado e concebido com muito amor. Recebi de presente de aniversário no ano passado (meu aniversário é 08 de julho) a notícia de sua chegada e eu e seu pai ficamos muito felizes. Foi o maior presente que pude receber na minha vida. Ao me descobrir grávida, ingenuamente pensava que com um bom plano de saúde e com o desejo de ter um parto normal, tudo correria bem. Ledo engano. Logo comecei a me informar e vi que não basta querer um parto normal. Você precisa mover montanhas para que o mesmo aconteça aqui no nosso país… Com tudo isso, logo no início da gestação (lá pelos idos do primeiro, segundo mês), já havia decidido que o Pedro nasceria de parto domiciliar. Ficamos um pouco decepcionados, pois havíamos feito o melhor plano de saúde da cidade pensando em ter o nosso filho num hospital… rsrsrs. Mas a saúde do nosso filho e a experiência que passaríamos não tinham preço. A decisão estava tomada. Assim, nos vimos procurando profissionais para a concretização do nosso desejo. Primeiramente conheci a minha doula, a Regina Carvalho, que desde o início nos acolheu e nos alimentou com informações e através dela, ficamos sabendo que aqui em Sorocaba morava uma parteira do grupo Primaluz, a Priscila Colacioppo. Logo a conhecemos e foi fácil decidirmos por chamá-la para a nossa empreitada. Mais tarde, conhecemos a também parteira Márcia Koiffman, que trabalha em conjunto com a Priscila. Pronto. Estava definido o grupo de pessoas que participariam do grande dia. Lá vai o relato:
Um dia antes do Pedro nascer, eu perdi o tampão logo ao acordar. Na verdade, o que havia sobrado dele, pois já havia saído um pouco alguns dias antes. Passei o dia tranqüilamente e à noite comi uma bela pizza com um pouco de vinho. A idéia do vinho foi da Márcia K. como tentativa para evitar que eu entrasse em trabalho de parto, pois afinal eu ainda estava de 37 semanas e 2 dias. Como de costume nesses dias que antecederam o parto deitei cedo, mas desta vez não consegui pegar no sono. Estava tendo mais contrações de Braxton-Hicks do que o normal e elas duravam mais. Logo comecei a ter cólicas intestinais e comecei a ir ao banheiro pra fazer cocô. Digo isso pois foram várias idas ao banheiro depois… rsrsrs
Por volta da meia noite acordei o Marcus (meu marido) mas não o deixei ligar para a Márcia K. ainda pois achava que estava em pródromos. As contrações estavam irregulares. As dores eram ainda bem suportáveis, como cólicas menstruais bem fortes. Comecei a andar pela casa e quando vinha a contração me apoiava aonde estivesse (cômoda, parede, marido etc). As contrações eram sempre irregulares. Quando pareciam que ficavam regulares, já acontecia alguma contração fora do padrão. Percebemos que dependendo do que eu estava fazendo, o padrão das contrações mudava. Quando comecei a andar as contrações mudaram o padrão… Por isso, reforçava a minha idéia que eu estava em pródromos ainda. Até peguei o livro “Parto Ativo” e confirmei a minha desconfiança… Mas algo me dizia que não eram simples pródromos… Assim, lá pelas 3 horas da manhã, quando as dores começaram a se intensificar, pedi para o Marcus ligar para a Márcia. Ele descreveu como eu estava e como a Priscila não estava no Brasil ela entrou em contato com outra parteira para vir junto com ela pra Sorocaba.
Às 6h30 da manhã, chegavam aqui em casa a Márcia K. com a Vilma Nishi. Me lembro delas chegando, eu toda nua e o mais engraçado, à vontade e elas já perguntando se podiam fazer um exame de toque. Estremeci pois achava que ainda estava no início do trabalho de parto e não queria de jeito nenhum me desanimar… Elas riram e disseram que se o resultado fosse ruim elas não contariam! Rsrsrs
O exame foi indolor e já estava com 7-8 de dilatação!!! Viva!! Com dores bem suportáveis já tinha percorrido uma bela jornada!! Foi uma injeção de ânimo!
Elas me perguntaram se eu ia querer a banheira e eu prontamente respondi, “Claro! Também quero ter o meu momento Gisele!” (Lembrando que fazia pouco tempo que a Gisele Bundchen tinha aparecido no Fantástico para contar sobre o seu lindo parto na água!). Na verdade, eu tinha muita vontade que o Pedro nascesse na água, mas sabia que não dá pra escolher essas coisas com antecedência. Ao entrar na água, relaxei completamente, as contrações se tornaram bem fracas, quer dizer, o trabalho de parto desacelerou muito e seria bem difícil do Pedro nascer ali. Mas foram ótimos os momentos na banheira. Pude relaxar com o Marcus e ganhei Nutella na boquinha da minha doula!
Ainda na banheira, a minha bolsa estourou e logo depois saí para terra firme onde as contrações começaram a ficar bem mais intensas e doloridas. Apesar delas acharem que eu não estava na partolândia, pois eu parecia muito consciente e ciente de tudo que passava ao redor, a partir daí as lembranças são anuviadas e bem seletivas. Acho que eu enganei bem elas me parecendo consciente (rsrsrs). Lembro que as dores foram fortes e que não achava posição que melhorasse (esta era a fase da transição). A uma certa altura fui para o chuveiro com o Marcus e apesar dele ter me contado que eu tinha relaxado bastante e que tinha ficado um tempinho bom por lá, eu me lembro que não gostei de ficar no chuveiro e achei que logo quis sair. Noção de tempo completamente alterada. A Vilma sugeria várias posições e parecia que nenhuma dava certo. Devo lembrar que tenho placa e pinos na minha perna esquerda, o que me impossibilita de ficar de cócoras. Isso dificultou um pouco as coisas, mas havia gostado de duas posições que havíamos tentado. De quatro encostada na cama e também deitada com uma bolinha no cóccix (que a Vilma havia saído pra comprar, provavelmente numa pet shop que tem aqui por perto rsrsrs) segurando as minhas pernas e trazendo elas pra frente no momento da contração. No meio disso tudo recebi muitas massagens da Vilma e até o Marcus também fez massagens no meu períneo. Engraçado que deixei o meu corpo a mercê deles para fazerem massagens e não tive nenhum pudor. Parecia que o corpo não era mais só meu. Aliás, nem sabia ao certo o que eles estavam fazendo comigo. Só me concentrava no que estava acontecendo lá dentro, junto com o meu bebê, que também estava fazendo a parte dele. Estava muito centrada no meu interior. Neste período, que já era o expulsivo, fiquei muito calada, mal falava. Me lembro de ver aqueles rostos me ajudando, mas era tudo muito louco, ouvia claramente o que eles falavam, mas o mais importante estava acontecendo ali dentro de mim e era isso que me chamava a atenção.
Enfim, depois de várias tentativas de posições, rolou até uma sessão “rebolation”, que confesso sou péssima, apesar de ser brasileira (rsrsrs). Também uma “dança da chuva”, mas nada ajudava o Pedro a descer. Aliás, ele descia e logo, vupt, subia. Depois, a Márcia disse que ele escolheu o caminho mais longo e isso aumentou em torno de uma hora o expulsivo, que foi bem longo, por sinal.
A Vilma estava muito preocupada com a minha vitalidade, achava que eu estava ficando cansada e insistiu pra que eu me alimentasse. Ela preparou um sanduíche de queijo e apesar de não estar com muita fome, comi, pois fiquei com medo de perder a força…
Tudo melhorou quando a Márcia sugeriu para que voltássemos à posição deitada no chão e segurando as pernas, só que desta vez com um pano no lugar da bolinha, que havia machucado um pouco da outra vez. Logo que me pus nesta posição, vi que ele nasceria, o que me animou e comecei a sincronizar a respiração com as contrações, que no começo estavam meio descompassadas com a respiração, mas depois de um tempo de aprendizado, entrei em sincronia e daí pra ele apontar não demorou muito, com a Márcia falando do cabelinho escuro dele.  O Marcus estava atrás de mim me apoiando, como sempre. Quando a cabecinha dele começou a sair, senti uma força interna gigantesca, parece um tsunami que vem e lhe devora. Senti o tal do círculo de fogo. Acho que senti muita dor, mas me esforço pra lembrar e não consigo. Parece que só ficou a parte boa, o êxtase. A cabecinha dele parou no meio e tive que fazer força sem contração pra ela sair completamente e me lembro dele escorregar de dentro de mim.
Em seguida ele veio para os meus braços e fico muito emocionada de lembrar desse momento. Ele se aninhando e tentando mamar a minha pele, na verdade, o meu pescoço, foi a sensação mais gostosa que já tive na minha vida. E, meu Deus, como ele cheirava bem!! O restinho de vérnix que tinha nele ainda o deixou muito cheiroso! E ele nasceu tão limpinho, quase não vi sangue! Sangue mesmo só vi quando saiu a placenta, a qual saiu alguns minutinhos em seguida ao nascimento.
Fiz uma declaração de amor pra ele no momento que veio para os meus braços. A voz parecia de outra pessoa (ainda na partolândia).
Muito obrigada, Pedro, por me tornar a sua mãe e por me fazer viver esta aventura linda que iniciou no dia 24/02/2010. Pedro nasceu às 12:03 hs, com 3,130 kg, 50 cm, apgar 10/10, sem laceração.
 Obrigada,
Marcus (por ser o meu companheiro e pai do Pedro, por me apoiar nos meus desejos e por ser tão presente e carinhoso)
Mãe (entendo você melhor agora e o meu parto foi em sua homenagem e à minha avó, que faleceu durante o seu nascimento. Acho que fechamos um ciclo)
Andréa (amiga, doula à distância, que me iniciou nesse mundo do parto natural)
Márcia K. (não esquecerei do seu olhar terno e de sua presença decisiva e discreta durante o trabalho de parto)
Regina Carvalho (minha doula, ficou ao meu lado por pouco tempo, mas me transmitiu uma força e um apoio incrível)
Vilma Nishi (obrigada pela disposição em participar do meu parto e pelas massagens maravilhosas)
Priscila Colacioppo (minha parteira do coração, que fez o meu pré-Natal e me incentivou e cuidou de mim sempre que precisei. Não era pra ser desta vez, mas no próximo, não deixarei você colocar os pés pra fora daqui!)
Luciane, 36 anos (Sorocaba)

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