Há algumas semanas tem aparecido bastante na minha timeline, posts e textos sobre uma suposta guerra materna em virtude de posições contrárias ao que se refere à criação dos filhos, desde a via de parto (pasmem!!!) até escolhas como homeschooling.
Essa semana, uma blogueira brasileira publicou um texto no mesmo teor, dizendo que era
uma “homenagem real às mães perfeitas dos grupos do facebook, sem crítica ou ironia. Na real eu li e juro que, apesar do aviso no início, foi quase impossível ler o texto sem parecer uma crítica ou uma ironia. Enfim, mais uma vez fiquei com preguiça de escrever sobre.
Até que hoje, uma amiga resolveu desabafar na timeline dela, e eu saquei o porque da minha preguiça.
Não é uma guerra. São escolhas. E aí eu me senti representada pelo texto dela. E pedi à ela, autorização pra postar aqui no blog.
Com vocês, um desabafo da Lu Florecer.
Hoje eu não vou postar fotos de comidinhas saudáveis… também não vou dizer como eu amo minhas filhas, apesar de ficar muito muito muito cansada algumas (muitas vezes) dessa dedicação, não me arrependo de nenhuma escolha que fiz… é… não vou dizer nada disso.
Não vou falar sobre como a Cama Compartilhada nos fez bem, sobre os estudos que comprovam seus benefícios… não vou falar também sobre livre demanda, do quão necessária e essencial é para mãe-bebê, na minha humilde opinião (e da OMS!)
Porque agora… tudo virou competição. Afrontamento.
Se compartilho uma foto de uma comida gostosa e saudável… é para dizer:
“Olha, apesar da correria, temos que cuidar da nossa saúde e alimentação; compartilho a receita porque dá pra fazer em casa e é fácil!”
Ou simplesmente para dizer: “Ai como eu gosto de cozinhar!”
Mas pode ser entendido como: “Olha como eu sou melhor do que você! Arraso na cozinha, só faço comida saudável e fresquinha todo dia! Você não sabe cozinhar??? Affffff credo!”
Escolha uma dessas alternativas…
Exatamente. A escolha é SUA.
Se compartilho uma nota sobre educação sem violência, disciplina positiva, amor, respeito e carinho, é para dizer:
“Poxa, tá difícil mesmo, não é fácil essa missão de educar, ensinar e conviver mas vamos lá. Esse é o nosso papel e fazendo um pouco a cada dia, conseguiremos. Porque vale a pena!”
Mas pode ser entendido como: “Eu sou a mãe perfeita. A mãe que nunca perde a paciência, sou maravilhosa, sei todos os livros da Laura Gutman de cor, coloco TUDO em prática e sigo à risca. Você não? Ah! Que lixo de mãe você é! Que horror… eu sou muito mais mãe do que você.”
Mais uma vez… pode escolher.
A escolha é sempre SUA.
Se existe guerra entre grupos de mães no facebook, entre mães fora do facebook… eu não estou sabendo. Honestamente, não estou sabendo, porque não me sinto parte disso.
As pessoas estão entendendo como “competição” algo que eu, por exemplo, vejo simplesmente como ESCOLHAS.
Aceitar as nossas limitações e ao mesmo tempo lutar a cada dia para quebrar paradigmas é um grande desafio.
“END THE MOMMY WARS” foi a campanha que fez o maior sucesso há algumas semanas atrás.
Guerra? Onde? Só está nela quem quer.
Eu continuo aqui… Limitada, muitas vezes esgotada, tentando dar um grito á menos do que ontem, por mim e por elas. Tentando trazer uma convivência com mais respeito e amor, por mim, por elas, pela nossa família e pela sociedade também.
E se eu não consigo… não me culpo (muito. rs)… nem coloco a culpa em quem consegue dizendo: “você é a culpada da minha culpa!”
O que faz eu me sentir culpada? A expectativa que eu mesma crio sobre as coisas.
Expectativa fantasiosa de que tudo será perfeito e sairá conforme planejado… e daí a frustração é quase inevitável… Porque o perfeito não tem. Não nessa vida de mãe.
Quando algo não sai como o esperado é hora de encarar a desilusão e transformá-la em força para tentar mais uma vez… Deixando a sabedoria tomar o lugar da angústia, da ansiedade e do desespero. (Quantas e quantas vezes é o que sentimos quando não temos o parto tão sonhado, a amamentação com suas dificuldades, a dificuldade na educação dos filhos, as fases difíceis de mudança na vida da criança, as birras, as incertezas… estou errando…. estou acertando… será? será?)
Um aprendizado essencial para nos libertarmos da tal da culpa materna, sem que deixemos de nos questionar, de prestar atenção em nossas atitudes; libertar-se da culpa materna, sem permanecer no comodismo. É simplesmente… DESAFIADOR!
*Lu Nervegna é Educadora Perinatal, Idealizadora do Projeto Florescer e Coordenadora do grupo Roda Materna, em São Paulo. Tem 28 anos, 2 filhas e amor singular pelos assuntos do mundo materno e todas as suas dores e delícias.