Gestação, Parto e Amamentação

Coisas que aprendi

By 24 de maio de 201211 Comments

Por Gisele Leal
Desde que comecei a correr, com todas as minhas forças da 3a cesárea, aprendi e continuo aprendendo muitas coisas:
– Aprendi que o parto é da mulher. Mas que se ela nåo tomar o parto como DELA, ele será da instituição, do médico, do marido, da mãe, da sogra e da síndica do condomínio.
– Aprendi que existem evidências científicas que são ignoradas pela grande maioria dos profissionais que atendem as mulheres durante a gestação, parto e nascimento.
– Aprendi que algumas mulheres são muito mais informadas que muitos profissionais.
– Aprendi o significado das palavras reconstrução, gênero, protagonismo, mamífera e materna.
– Aprendi que slings deixam os bebês mais calmos e as mães menos cansadas.
coisas que aprendi
– Aprendi que posso viver sem um salário de 5 digitos, e que 4/5 das coisas que eu comprava eram desnecessárias. Aprendi a viver mais leve.
– Aprendi que existem poucos médicos do bem, que se atualizam constantemente, e pautam suas ações em evidências cientificas atuais, de forma a lidar com seus próprios limites. Aprendi que esses médicos do bem se inspiram na vontade que as mulheres tem em parir e se colocam à disposição de centenas delas todos os dias nas redes sociais e através dos emails para que elas possam construir o próprio parto.
– Aprendi que existem muitos médicos bem intencionados que vão indicar uma intervenção desnecessaria pela limitação DELES em lidar com os próprios limites.
– Aprendi ainda, que existem outros muitos médicos picaretas, que indicam intervenções por comodidade própria. A esses, eu sonho com o dia que seus regisgros sejam caçados.
– Aprendi que ser atendida e parir com parteira é possivel, é lícito, seguro e muito gratificante. Aprendi que é impossível não se apaixonar por nossa parteira.
– Aprendi que Doulas são mulheres que se doam, se entregam, se partem e repartem para ajudar uma mulher a buscar seu parto e a parir.  E então resolvi ser uma Doula. E só quando comecei a doular é que aprendi que ser Doula cansa muito, é um tremendo desgaste energético e físico. Aprendi que eternamente vou chorar pelas cesáreas desnecessárias das gestantes que de alguma forma não conseguiram romper com a matrix. Mas ainda sim aprendi que é impossível deixar de ser Doula simplesmente porque eu AMO estar ao lado dessas mulheres no momento mais importante da vida delas.
– Aprendi que existe a Matrix. Sim, aquela do filme. E que há muitas pessoas fora da matrix. E que aquelas que já ouviram falar da pilula vermelha e não a tomaram, se sentem “menas” do que quem a tomou. Mas aprendi com essas mesmas mulheres que saíram da Matrix, que não existe MENAS mãe ou MENAS mulher. Existem as mães e as mulheres que saíram da Matrix. E ponto.
– Aprendi a escolher entre a minha vida e a vida que eu achava que era minha, e por isso sou rotulada de radical, xiita e inconsequente por essa escolha. Mas tb aprendi a achar graça disso hehehe.
– Aprendi que não existe o parto ideal. O meu parto ideal nao é o mesmo que da minha cunhada, vizinha, ou amiga. Aprendi a desejar que cada mulher se informe e busque o seu parto ideal.
– Aprendi que existe parto de lotus, parto ativo, parto na água, parto de cócoras, parto humanizado, parto domiciliar, e que todos esses são diferentes de parto natural e de parto normal.
– Aprendi que posso lutar por um modelo obstétrico melhor pra que as mulheres tenham outras opções além das que lhe são apresentadas: Parto normal frank, cheio de intervenções e em posição de frango assado ou cesárea eletiva bonitinha, limpinha, sem emoção nenhuma, com uma recuperação pra lá de dificil.
– Aprendi que o parto não é apenas fisiológico. Se fosse, todas nós pariríamos. O parto é uma construção.
– Aprendi que mulheres que participam ativamente de grupo de apoio, de comunidades virtuais sobre parto, se preparam, constroem e na maioria das vezes conquistam seus partos.
– Aprendi que posso chorar pelo não-parto de uma pessoa querida, e que tenho que respeitar o luto dela, ainda que ela não entenda esse sentimento ambíguo de estar feliz pelo bebê que está no colo, mas triste por algo que nem ela sabe o que é.
– Aprendi que faz todo o sentido do mundo o bebê nascer de forma humanizada, e que não faz sentido algum a forma como 99,9% dos  neonatologistas recebem estes bebês. Aprendi que não adianta lutarmos por um parto digno e nossos bebes serem recebidos com tantas intervenções desnecessarias.
– Aprendi que parto domiciliar é tão seguro quanto parto hospitalar e que na maioria das vezes é muito, muito mais gratificante.
– Aprendi que existe o 1%. Que mesmo num parto natural, rapido, sem drogas, em posição vertical ainda sim, o bebê pode precisar de reanimação. E como foi duro esse aprendizado. Foi nessa experiência que eu entendi o quanto é importante preparar os casais para qualquer desfecho. Foi nesse parto que eu também entendi o porque minha parteira sempre trabalha em dupla. Uma pra cuidar da mãe, outra pra cuidar do bebê.
– Aprendi que posso amamentar em livre demanda, que bebês não mamam apenas porque estão como fome. Mamam porque estão com sede, porque estão inseguros, porque estão com saudade, porque estão com sono. Aprendi a não negar peito e colo pros meus filhos.
– Aprendi que dar chupeta é um inferno. Porque eu dava chupeta porque queria que minha filha dormisse e depois quando ela dormia a chupeta caía, ela acordava e chorava e eu tinha que levantar pra colocar a chupeta na boca dela de novo.
– Aprendi que colocar meus bebês  na minha cama evitava que eu levantasse pra colocar a chupeta na boca, porque eu simplesmente aprendi que deixar o peito disponível pro bebê o deixa mais seguro e com sono melhor.
– Aprendi que não posso exigir que todas as mulheres à minha volta também amamentem. Porque assim como o parto, a amamentação também é uma construção. E como é dificil aceitar isso!
– Aprendi que ser mãe também é uma construção. Ser mulher. Ser humano.
E continuo aprendendo….

11 Comments

  • Rebeca disse:

    Que lindo, resumido e completo. Mas muitas ainda vão ler sem entender. Ainda achando que são definitivamente imperfeitas, uma pena.
    Beijocas, querida, uma honra acompanhar seu aprendizado 😉

  • Manu Mitre disse:

    Continue aprendendo muito, porque todo mundo se beneficia de tudo o que você conquista 😉

  • Pathy Lopes disse:

    Aaaaah Gi! Tãooooooooooo lindo, nunca vou me cansar de agradecer por ter vc na minha vida. Obrigada, obrigada, obrigada!!!

  • Érica Azevedo disse:

    Gi! Que linda! Sua existência soma muito ao mundo!, ao mundo inteiro, e ainda mais intensamente ao mundo das mulheres que permitem que você entre na vida delas. Aprendizado puro pra você, e pra nós também. Isso é tão bonito! Tão bom! Minha eterna gratidão por isso.

  • Mi Satake disse:

    Gi, conheci o grupo ha pouco! Bem pouquinho… mas ocmo nada é por acaso, agradeço desde já! A Anne Rammi q me apresentou o grupo VBAC no face (vc conhece? fiquei na duvida se saia escancarando no grupo sobre ela, ou não. Ha pessoas q nao curtem…), e a vc, por ja ter me ensinado e emocionado tanto nesse tempinho!
    Q lindo seu post!
    Um beijo
    Michelle

  • Paola disse:

    Gi se eu tivesse aprendido um pouquinho disso tudo, poderia ter conseguido um desfecho melhor para o meu parto…..enfim, nao deixa de ser aprendizado. Estou procurando contornar esses sentimentos ambíguos de pura felicidade e dor, para escrever meu relato de nao-parto e tentar ensinar um pouquinho com minha experiência e, claro, me preparar melhor para o próximo!!! Aproveito para agradecer a você todo o apoio, amparo e por nao me deixar sozinha naquela hora tao difícil. Parabens pelo belo trabalho e tamanha doação! Tenho pensado bastante na vaquinha e o precipicio!!! Rsrsrs

  • carina disse:

    Gi querida, me arrepiou. Nossa historia é forte demais. É muito bom olhar pra um passado recente e dele tirar aprendizados. Bjo, Ca

  • Renata disse:

    Gisele, adorei esse texto, principalmente o final… sofri 42 dias com o peito, e não desisti, amamentar foi pra mim o maior desafio da minha vida, escutava todos a minha volta dizendo, desiste, dá logo uma mamadeira, olha seu peito, olha seu sofrimento e blá blá blá, mas essa era a única coisa que só eu podia fazer pela minha filha, e eu venci… ela mamou até a semana de completar 2 anos e por vontade própria e eu fiz a minha parte com muito amor.

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