Começar esse relato sem contar uma pouco minha história não dá.
Sou mãe da Maria Luiza que hoje tem 3 anos e 10 meses, nascida de uma cesárea eletiva, por meu medo da “famosa circular de cordão”, uma hipertensão gestacional mal diagnosticada e uma grande falta de empoderamento. Graças a Deus ela nasceu bem, amamentei na primeira hora e após um afastamento de 7 horas esperando passar o efeito da anestesia veio para o alojamento conjunto. Preciso contar também que que há 10 anos tive um AVC, o qual me faz tomar um medicamento até hoje. Como sequela às vezes tenho dormência e dor do lado direito do corpo, e toda e qualquer dor que eu sinta é potencializada por isso, tudo é controlado pela medicação. A natureza é tão sábia que durante as minhas duas gestações eu não senti nenhum dos sintomas que tanto me incomodam.
Quando descobri minha segunda gestação tinha certeza que dessa vez seria diferente, eu teria um parto o mais natural possível. Busquei grupos e informações durante toda a gestação e um obstetra humanizado que me apoiasse. O Dr. Alberto Jorge Guimarães foi quem me acompanhou durante o pré natal e me assistiu no parto. Quem me acompanhou também nessa jornada foi um anjo chamado Gisele Leal, minha doula.
As semanas foram passando, os pródromos começaram as 39 semanas, contrações de bh, cólicas e eu achando que não passaria das 40 semanas. Porém numa consulta conversamos sobre “chegar as 42 semanas e não entrar em tp espontâneo”, sabia que a indução com ocitocina poderia não funcionar tão bem assim. Toque com 40 semanas quase 1 cm de dilatação… caramba, frustração, mas ele me acalmou dizendo ainda temos tempo pela frente, vc vai entrar em TP.
Moramos em Mogi das Cruzes e decidimos ficar hospedados na casa de amigos em SP a partir das 40 semanas pois teria meu bebê numa maternidade de SP e não queríamos correr o risco de pegar um engarrafamento na estrada.
E essa semana passou. Voltamos a Mogi para passar o fim de semana. 41 semanas, segunda – feira, voltamos pra SP, consulta. Praticamente a mesma coisa, 1,5 cm e colo nada amolecido. Agora a frustração se tornou preocupação. Voltaria na quinta-feira para tentar um descolamento e ver se a coisa “engrenava”. E lá fomos nós para mais uma consulta, com dificuldade ele conseguiu fazer o descolamento, mas não totalmente. Nessa altura eu já tinha feito promessa, tomado todos os chás, comido comida mexicana, feito caminhadas, exercícios, mesmo sabendo que nada disso funcionaria se não fosse a hora dela nascer. Então por indicação da minha doula fui buscar outras alternativas.
Ela conseguiu uma consulta com a Eneida Mara, terapeuta, uma linda que me atendeu no feriado em seu consultório em SP para fazer acupuntura. Sai de lá outra pessoa, com as energias renovadas, menos apreensiva.
Chegou o domingo, véspera de completar 42 semanas. Tive contrações a noite toda, como já estava acontecendo há duas semanas, mas elas não engrenavam, paravam ao amanhecer. Foi então que a Gisele sugeriu que uma obstetriz fosse me avaliar. Então conheci outro anjo a Letícia Ventura, uma querida. Conversamos, e ela conseguiu fazer um novo descolamento, estava ainda com apenas 2 cm. A esta altura, a Gisele também havia conversado com a Ana Cris Duarte, que me atenderia em pleno domingo caso eu quisesse usar a sonda de foley. Eu também comecei usar a ocitocina spray nasal.. Eu faria qualquer coisa para evitar uma nova cesárea. E lá fui eu, as 18h encontrar a Ana Cris. O tal do spray estava fazendo efeito, as contrações voltaram mais intensas (placebo ou não acabou funcionando!). Novo toque e voi la: 3cm, não dava mais para usar a sonda porque ela escaparia. A Ana Cris sugeriu ter uma conversa com o obstetra caso o quadro não mudasse. Fora isso refizemos as contas da minha DPP e elas não batiam, muito provável que eu não estivesse com quase 42 e sim 41 semanas. Sai de lá mais feliz e acreditando que entraria em TP em breve. Fui para um churrasco. Nesse momento as contrações começaram a incomodar bastante, fui para casa onde estava hospedada. Liguei pra Gi e falei que as contrações estavam de 10 em 10 minutos, devia ser umas 19h30, mas que eu sabia que estavam diferentes. Na hora ela disse: – Estou indo pra ai! Eu respondi: – Não. Vai jantar tranquila e vem depois (ela vinha de Sorocaba).
Pedi para meu marido ir ficar no quarto com minha filha, me despedi dela, sabia que só a veria muitas horas depois e com a Maria Alice nos braços. Disse para ele ficar tranquilo que eu estava entranto em TP, que a doula já chegaria. E fui ficar em outro quarto da casa. Abro um parenteses para agradecer a família Silloto que nos acolheu, principalmente a Sônia que foi uma mãe a a Cintia uma irmã. Que em todo momento prestaram grande ajuda. Elas ficaram comigo até as doulas chegarem… 20h30 ligo pra Gi pq as contrações estavam de 3 em 3 ou 5 em 5 minutos. Ela iria sair de lá as 22h. Ela então mandou uma outra doula para ficar comigo enquanto ela não chegava, esse outro anjo foi a Magê, Maria Angela Fielder. Quando ela chegou eu comecei a relaxar, fui para o chuveiro, voltei pra cama, algo estava estranho, eu não queria me mexer, eu não conseguia me movimentar e sabia que os movimetnos poderiam aliviar as dores e ajudar no TP. Fiquei ali, na mesma posição por bastante tempo. Depois de um tempo a Gi e a Letícia chegaram juntas. Massagens, chuveiro, música suave… ai relaxei de vez, lembro de dormir entre as contrações.
Realmente são como ondas… foi então que eu comecei a sentir uma dor que não era das contrações, a onda vinha, passava mas essa dor continuava na região leteral do dorso irradiando para as costas, era uma das minhas crises devido a sequela do avc… eu já não estava aguentando mais, isso devia ser, sei lá, 4 ou 5 horas da manhã, quando finalmente a Letícia, obstetriz, fez um novo toque: 5 cm. Fiquei muito feliz e disse que queria ir pra maternidade sabia que precisaria de anestesia para continuar. Chegamos lá as 5 e pouco. Após a admissão, toque “errado da obstetriz que disse que eu estava com 3 cm e feito um cardiotoco” subimos para a delivery, onde sabíamos que iria ficar comigo ou meu marido ou a doula, já havíamos conversado a respeito e a Gi subiu comigo. Lá, uma obstetriz “fofa” fez mais um toque, esse certo, 5 cm e mais um cardiotoco (não sei pq pois havia acabado de fazer um), ligou para meu médico que disse estar a caminho. Fui pra banheira, consegui relaxar um pouco… sai da banheira e lá veio a obstetriz fofa do inferno me colocar o cardiotoco de novo, deixei, ela saiu e eu tirei… imaginem a cara dela ao voltar pra sala e me ver de quatro na cama sem o cardiotoco e ainda pedindo comida. Ficou furiosa e saiu batendo os pés!
Meu obstetra chegou e tudo mudou (com relação ao atendimento), pedi analgesia, foi feita direitinho, e a dor se foi. Sentia as contrações, que ainda vinham um pouco doloridas mas conseguia me movimentar, agachar, usar a bola, enfim consegui curtir o meu TP. Ninguém mais ficava entrando e saindo, finalmente a paz que eu merecia… O Alberto foi verificar a dilatação e ela estava total, porém as contrações haviam parado. Ocitocina, as contrações voltam com tudo (e a dor lateral tbm), anestesista vem, peço para ele fazer a analgesia “de leve”, ele fez e me apresentou o anestesista que ficaria no lugar dele. Passam algumas horas e praticamente na hora do expulsivo, esse anestesista vem e me dá nova dose de anestésico, sem eu pedir, acho que ele se “comoveu com meus gemidos”, não vi que ele ia me anestesiar porque estava deitada de lado e ele veio por trás, quando fui falar pra não fazer ela já tinha feito e ele fez eu perder a sensibilidade da perna esquerda (nessa hora meu médico não estava na sala, e acho que a Gi tbm não, não me lembro bem). E eu não conseguia ficar em pé… Maria Alice não descia… tentei algumas posições, mas com a perna anestesiada ficou mais difícil. Foram umas 6 horas com dilatação total, 3 horas tentando, sentia os seus cabelinhos, fazia força, ela descia e subia… eu não estava acreditando, uma emoção muito grande tomou conta de mim, e eu tirei força não sei de onde. Aliás sei sim, da minha doula que me olhava nos olhos e dizia que eu ia conseguir e do meu obstetra que também não me deixava desistir. E no meio disso tudo, tinha uma enfermeira obstetra bacana também que ajudou muito. Mas a dor voltou. E veio sem dó. Eu não conseguia mais fazer força. E pedi para ele me ajudar. Ele ainda falou várias vezes, na verdade ainda tentei por uma tempo, até eu dizer: – Pode usar o fórceps. E assim ele fez, e ela nasceu. Cheia de mecônio, com uma circular e veio para o meu colo. Com um certo desconforto (?) respiratório. Consegui negociar com o neonatologista de plantão as intervenções, disse o que eu não queria, assinei um termo. Me disse que ela precisaria ficar no berçário por causa do desconforto (?), disse que ou eu o o pai iria ficar com ela. Sei que eles me levaram ela logo que cheguei no quarto, após o pós operatório por causa da anestesia, cerca de 1h30 depois do seu nascimento e não nos separamos mais. Tive uma pequena laceração.
Foram cerca de 22 horas no total. O dia em que contrariei as estatísticas: tive meu vbac numa instituição retrógrada que não respeita a parturiente nem as doulas.
Não foi natural da maneira como desejei, mas foi como tinha que ser. Uma coisa que me fez muito bem durante a gestação foi encarar que talvez as coisas pudessem tomar um rumo um pouco diferente, e tudo bem se isso acontecer. Sei que fiz o meu melhor para que minha fllha chegasse ao mundo com respeito.
O dia do nascimento da Maria Alice, 28 de janeiro de 2013, marca também o início de mudanças profundas na minha alma.
Preciso agradecer muito a todos que de uma forma ou de outra me ajudaram nessa jornada:
Meu companheiro Daniel Guerra, por me apoiar e acreditar que eu conseguiria.
A minha filha Maria Luiza que me ensinou a ser mãe.
A família Silloto por nos acolher.
A Marcela, Sônia, Cintia, Fernando, Vovó Ana Maria e Tia Ana Elisa por cuidarem da Malu.
As amigas dos grupos pelas informações, força e torcida.
A Gisele Leal minha doula por tudo.
Ao obstetra Alberto Jorge Guimarães pelo apoio e respeito.
Letícia Ventura, obstetriz. Maria Angela Fielder, doula. Que se doaram no meu TP.
Eneida Mara, acupunturista.
Ana Cristina Duarte, obstetriz.
Para quem quiser saber mais do desrespeito que sofremos na maternidade segue o link:
http://www.redebrasilatual.com.br/radio/programas/jornal-brasil-atual/mae-leva-doula-e-e-hostilizada-na-hora-do-parto-no-pro-matre/view
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Fabiana Marcela Araujo