Eu já acreditei em todos os métodos de indução existentes. Já indiquei pras gestantes que eu acompanhei tomar chá de canela, subir escada, fazer acupuntura. Hoje não acredito mais. E vou contar pra vocês porque.
Tive dois partos normais. Como eu tenho duas cesáreas prévias, não poderia usar indução química. Meu parto teria que ser ‘natural’. Pois bem. Meu primeiro trabalho de parto foi repleto de tentativas de indução (mecânicas e alternativas) por causa de diabete gestacional e depois porque a bolsa já estava rota há muito tempo.
Os meus dois trabalhos de parto começaram com mais de 30 horas de bolsa rota.
No primeiro parto, passei com obstetra que descolou membrana e massageou colo do útero várias vezes. Tomei homeopatia por dias. Fiz mais de uma semana de acupuntura. Tomei chá de canela, de framboesa, fiz muito sexo e estimulação mamária. Nadei e andei muito. Quando a bolsa rompeu subi muita escada e caminhei demais. Tudo em vão. Meu trabalho de parto começou quando tinha que começar. E começaria no mesmo momento se não tivesse tido todas essas induções.
No segundo parto não tive descolamento, não tive massagem de colo de útero, não tomei homeopatia. Fiz acupuntura para outras coisas (pra fortalecer o rim e assim desinchar, para ansiedade, mas não para induzir o parto). Quando a bolsa rompeu, a parteira foi em casa depois de 12 horas e fez acupuntura e môcha. Induziu? Não… continuei com as mesmas contrações de pródomos que já me acompanhavam desde a 34ª semana. Talvez um pouco mais próximas e longas, mas nem de perto eram contrações de trabalho de parto. Eram pródomos. E nessa altura do campeonato já cogitavam a ocitocina nasal. Fiquei muito brava. Gritei, briguei. Meu corpo iria funcionar quando tivesse que funcionar e não no tempo que as pessoas queriam. No meu tempo e no tempo da minha filha. E novamente meu trabalho de parto começou quando tinha que começar. E veio avassalador.
Eu não acredito em nenhum indutor, nem nos naturais (chás, escaldapés, acupuntura), nem nos mecânicos (descolamento e ruptura de bolsa por exemplo) nem na indução química (miso e ocitocina) se não estiver na hora…
Trabalho de parto só começa e indução só funciona se tiver receptores disponíveis para ocitocina nas membranas celulares. E nós sabemos que esses receptores são “ativados” quando o parto está próximo e não sabemos porque… E isso explica porque muitas vezes até mesmo doses cavalares de indução medicamentosa no hospital “não pega”. A indução vai funcionar se o corpo já estiver pronto e o bebê maduro. Então se o seu trabalho de parto não pegou depois de indução, não é um defeito do seu corpo, simplesmente não estava na hora ainda.
Ahhhh então não vale a pena induzir Gisele? Uai! Se houver uma indicação clara de que é necessário antecipar o nascimento desse bebê, claro que vale a pena tentar a indução. Vale a pena tentar tudo! Mas lembre-se de que uma indução fora de trabalho de parto requer muita paciência dos profissionais que vão conduzi-la e do casal também. Pode levar dias até que os receptores de ocitocina fiquem ativos e possam receber toda essa ocitocina que está sendo injetada em você. Do ponto de vista do bebê sempre é melhor tentar um parto normal (mesmo que induzido) do que uma cesárea. E para a mãe, pode ser uma experiência incrível se for muito bem conduzida.
E se a bolsa romper e eu não entrar em trabalho de parto?
São raros os trabalhos de parto que demoram para começar quando rompe a bolsa. Segundo TEDESCO (1997), 80% das mulheres entrarão em trabalho de parto espontâneo nas primeiras 24 horas após a bolsa romper.
Trabalho de parto ativo é igual a ocitocina na veia. Se não começou é porque não está na hora. Se começou e parou, é porque não há liberação suficiente e regular de ocitocina.
Se o trabalho de parto estacionar vale a pena a equipe se auto avaliar. Porque afinal esse trabalho de parto estacionou? Muita conversa da equipe? Muita pressão pro trabalho de parto andar logo? Tem marido ou mãe da parturiente tensionando o ambiente? A mulher está à vontade? Tentou reduzir a luz do ambiente e deixar mais acolhedor? Como a mulher está lidando com a dor? Porque essa mulher deixou de liberar ocitocina? Medo, tensão?
A liberação de adrenalina (que acontece quando sentimos medo, tensão) ou cortisona (quando ficamos estressadas) na corrente sanguínea vai competir com a ação da ocitocina e pode interromper ou retardar o trabalho de parto. Por isso, ao invés de estimular essa mulher a andar, a subir escada, ao invés de dar chá de canela, vale mais a pena conversar, esperar, descansar, dar colo, acolher. Tentar ajudar na parte emocional. Esse é o papel que nós doulas devemos desempenhar. Aliás não só as doulas, mas todos os profissionais envolvidos na assistência ao parto.
Se a equipe que está acompanhando essa mulher, começa a oferecer indutor natural passa, sem querer, a mensagem de que a mulher não “está funcionando” e, ao invés de ajudar, atrapalha.
Equipe de parto perfeita não existe. São seres humanos como qualquer um de nós. Mas todos podem tentar sempre dar o seu melhor, acreditando e tendo paciência. O tempo só existe pra quem olha no relógio. Nosso corpo não olha pro relógio. Ele trabalha no tempo que ele precisa.
E deixo aqui uma frase da fantástica Ina May Gaskin, parteira no Tennessee:
“Se a mulher não se parece com uma deusa durante o parto, então alguém não a está tratando como deveria“.