Por que eu escolhi ser obstetriz? Olhando para trás hoje, percebo que essa sempre foi minha missão.
Quando eu era criança e as pessoas me perguntavam o que eu queria fazer quando crescesse, eu falava que queria “fazer neném nascer”. O mais engraçado era que eu não tinha nenhuma noção de parto normal ou de cesárea. Minha mãe teve três cesáreas. Essa era a única coisa que eu sabia, que eu e meus irmãos tínhamos nascido pela barriga. Mas eu tinha uma tia que falava assim: “Nossa, quase que a Evelin caiu no chão quando nasceu”, de tão rápido que foi o parto. Mas como minha mãe e todas minhas tias maternas tinham tido cesárea, para mim nenéns nasciam assim.
Quando eu tinha 14 ou 15 anos fui trabalhar como recepcionista no consultório do obstetra que fez as três cesáreas da minha mãe. Ele chegou a me ensinar a aferir pressão e essa era minha função antes de colocar a gestante dentro do consultório. Quando eu estava um pouquinho mais velha, passei a trabalhar como “ouvidora” das clientes no hospital que ele trabalhava, e por algumas vezes ele me chamou para assistir as cesáreas que ele faria. Foi quando eu vi como os nenéns nasciam e ali, naquele momento, eu não quis mais trabalhar com isso. Que doido, né? Isso foi um pouco antes de prestar vestibular e acabei escolhendo fazer ciências biológicas. Pouco antes de me formar, comecei a trabalhar na área de microbiologia e segui na indústria por muitos anos.
Quando a Cacá nasceu eu resolvi fazer o curso de doulas (depois faço um post contando da saga do parto da Cacá 😅). Larguei minha carreira na indústria e fui trabalhar como doula. Mas quando comecei a trabalhar percebi que a doula usa muito o corpo, precisava de muita energia física e muita energia vital para sustentar a mulher física e energeticamente e eu comecei a me perguntar se conseguiria ser doula até uns 60 anos. Porque eu tinha me encontrado, eu amava estar nos partos e era isso que queria. Foi assim que, após dois anos como doula, resolvi fazer o curso de obstetrícia. Embora como parteira eu também precise de muita vitalidade, pois fico disponível 24 horas por dia, 7 dias na semana, saio de madrugada e tenho uma vida bem desregrada, eu não preciso usar tanto a força física como uma doula e por isso acredito que irei partejar por muitos anos ainda, assim como a minha parteira que me inspirou a ir para obstetrícia, a Priscila Colacioppo.
Quando eu estava me formando em obstetrícia e era parteira trainee da Priscila, eu peguei a primeira bebê em minhas mãos, a Pérola. Quando eu senti aquele corpinho quentinho e escorregadio, quando eu senti a primeira inspiração da Pérola e o coraçãozinho dela batendo na minha mão, o tempo parou por um segundo e eu pensei: “nossaaaaa… era isso que eu tinha que fazer desde o começo!”.
Quero trabalhar com parto por muitos e muitos anos ainda. É uma coisa que eu gosto muito, que nutre a minha alma! Não consigo me ver fazendo outra coisa. Desde quando eu assisti a primeira mulher dando a luz, desde quando eu presenciei o primeiro segundo de vida de um bebê neste planeta, eu percebi que essa é minha missão, e que eu nasci para isso. 💟
