Fonte: http://www.usatoday.com/news/health/2009-09-03-midwife-home-birth_N.htm
Tradução: Gisele Leal
Na verdade, os partos domiciliares planejados chegam a ter uma taxa de complicações menor, de acordo com o estudo publicado no 15 de setembro questão da CMAJ .
Mesmo considerando-se que o estudo foi realizado no Canadá, onde as decisões em relação à obstetrícia são mais aceitas que em outros países, os resultados podem clarear as controvérsias que acontecem nos Estados Unidos e em outros lugares.
O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas se opõe a partos domiciliares, assim como certas organizações na Austrália e Nova Zelândia (*e no Brasil). Mais organizações na Alemanha são favoráveis e as províncias canadenses estão migrando a assistência obstétrica para para parteiras, afirma a principal autora do estudo Patricia Janssen, diretora do programa de Mestrado em Saúde Pública da Universidade de British Columbia .
Janssen, uma enfermeira que tem formação de parteiras, embora não tenha a certificação, disse: “As pessoas que atuam como parteiras independentes não são necessariamente regulamentadas [nos EUA], dependendo em qual Estado está inserido, então não há uma garantia de que essa parteira teve um nível adequado de formação ou de um diploma certificado ou qualquer coisa assim. E elas não podem ser monitoradas e regulamentada por uma faculdade particular profissional. ”
De acordo com Greenfield, a Associação Nacional de Parteiras Profissionais Certificadas tem um processo de certificação, mas muitos estados não reconhecem isso. “Se você é uma mulher que quer ter um parto em casa, como é possível determinar se essa pessoa tem as qualificações adequadas?” ela disse.
Os autores do novo estudo compararam três grupos diferentes de nascimentos planejados em British Columbia desde o início de 2000 até ao final de 2004:
- partos domiciliares assistidos por parteiras registradas (parteiras são registrados no Canadá),
- partos hospitalares com a presença do mesmo grupo de parteiras registradas
- nascimentos hospitalares atendidos por médicos.
Ao todo, o estudo incluiu quase 13.000 nascimentos.
A taxa de mortalidade por 1.000 nascimentos foi de :
0,35 no grupo de parto domiciliar,
0,57 em partos hospitalares assistidos por parteiras, e
0,64 entre aqueles com a presença de médicos, de acordo com o estudo.
Mulheres que deram à luz em casa eram menos propensos a necessidade de intervenções ou ter problemas como laceração do períneo ou hemorragia.
Esses bebês também foram menos propensos a precisar de terapia de oxigênio ou ressuscitação, segundo o estudo.
Os autores reconhecem que “auto-seleção” poderia ter distorcido os resultados do estudo, em que as mulheres que preferem partos em casa tendem a ser mais saudáveis e de outra forma mais apto a ter um parto domiciliar.
Janssen disse que espera que “este artigo irá ter um grande impacto nos EUA” Mas há um definitivo preconceito “estabelecido” contra os partos em casa (*não só lá né gente??). E a questão é uma grande carga emocional, ela diz.
“Não é uma questão política e econômica sobre como controlar onde o parto acontece, mas também uma profunda crença por médicos que não é seguro ter seu bebê em casa”, disse Greenfield. “Os médicos vêem cada paciente de parto domiciliar, que teve uma complicação, mas não vê a grande maioria que têm lindos e fabulosos bebês em casa que podem amamentar melhor ou têm menos infecções hospitalares. Pode haver benefícios médicos”, acrescentou.
“Obstetrícia precisa ser regulamentada. Não pode ser sob o radar, porque seria perigoso”, disse Greenfield.”Tem que haver um processo de regulamentação e um processo de licenciamento [para proteger] as mulheres que estão escolhem o parto domiciliar de qualquer maneira.”
Observações da tradutora:
No Brasil existem as parteiras tradicionais e as parteiras contemporâneas ou urbanas.
As parteiras tradicionais, que são aquelas que aprendem o ofício de geração em geração, e não possuem qualquer formação acadêmica. Normalmente atuam nas regiões mais carentes, onde o sistema de saúde não alcança todas as mulheres. Segundo o Cadastro de Parteiras Tradicionais/GASM e GETEC/SES – 2009/2011, a maioria são de mulheres idosas, que aprenderam a realizar o parto no dia-a-dia ou com outras parteiras. São respeitadas onde residem e apontadas como referência para a saúde de mulheres e crianças da sua comunidade. Geralmente, são lideranças onde moram.
As parteiras contemporâneas ou urbanas são aquelas que se formaram no curso de Enfermagem, e fizeram uma pós graduação em Obstetrícia OU as se graduaram em Obstetrícia (no Brasil este curso é oferecido pela USP e são 04 anos de estudo em período integral). Normalmente iniciam trabalhando em hospital. Assistem partos hospitalares e domiciliares planejados.
Parteiras contemporâneas que assistem partos domiciliares planejados no Brasil, em geral, usam como primeiro critério para aceitar assistir um parto domiciliar: parto domiciliar é parto de baixo risco. Gestantes com patologias ou riscos assosciados, como diabetes ou pressão alta, são orientadas a buscar sim o seu parto natural, inclusive com parteira e doula, porém no âmbito hospitalar.
Obesidade, sedentarismo, hábitos pouco saudáveis não são contra-indicação para um parto domiciliar planejado, desde que não haja patologias associadas e desde que a mulher e sem companheiro conscientemente informados e empoderados desejem que o nascimento de seu bebê aconteça em âmbito familiar.
Segundo publicou em sua coluna no Guia do Bebê a Dra. Melania Amorim, “uma revisão sistemática recente encontra-se disponível na Biblioteca Cochrane com o título de “Midwife-led versus other models of care for childbearing women” [http://www.cochrane.org/reviews/en/ab004667.html]. Esta revisão demonstra que um modelo de cuidado com parteiras associa-se com vários benefícios para mães e bebês, sem efeitos adversos identificáveis. Os principais benefícios são redução de analgesia de parto, menor número de episiotomias e partos instrumentais, maior chance de a mulher ser atendida durante o parto por uma parteira já conhecida, maior sensação de manter o controle durante o trabalho de parto, maior chance de ter um parto vaginal espontâneo e de iniciar o aleitamento materno. A revisão conclui que se deveria oferecer à maioria das mulheres (gestantes de baixo-risco) a opção de ter gravidez e parto assistidos por parteiras.”
Para completar, a Organização Mundial de Saúde deixa claro em seu guia Prático: Maternidade Segura – Assistência ao Parto Normal de 1996, que “pode-se afirmar com segurança que uma mulher deve dar à luz num local onde se sinta segura e no nível mais periférico onde a assistência for viável e segura. No caso de uma gestante de baixo risco, este local pode ser a sua casa, um centro de parto de pequeno porte ou talvez a maternidade de um hospital de maior porte. Entretanto, deve ser um local onde toda a atenção e cuidados estejam concentrados em suas necessidades e segurança, o mais perto possível de sua casa e de sua própria cultura.”
Atualização:
Você também pode ler este texto da Dra. Melania Amorim, sobre a seguraça do Parto Domiciliar: Estudando parto Domiciliar ou esse texto publicado no mesmo blog escrito pelo Dr. Mercola: O mito do parto hospitalar mais seguro
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