Parto

Desabafo de quem saiu da “matrix”

By 23 de agosto de 2010One Comment

Por Gisele Leal 

A incapacidade que sinto em ajudar está dificil de trabalhar. Está dificil até de organizar meus sentimentos e idéias para começar a escrever.
Explico melhor… Neste ano, nada menos do que 10 amigas terão (a maioria já teve) seus bebês. 10 amigas grávidas!
Fiquei muito feliz, pois queridas amigas engravidaram muito próximas a mim. O primeiro a chegar foi o Thiago, em março. A mamãe, assim como aconteceu na primeira gestação, teve um TP muito rápido. Chegou ao hospital, mas acabou recebendo analgesia, e todo o pacote que acompanha os protocolos dos partos normais. Até aí, tudo bem, eu ainda estava me informando e aprendendo sobre parto natural. Ela já tinha tido o primeiro filho de parto normal “quiabo” e quem era eu para dar pitaco no parto dela, se eu tinha 2 cesáreas? O bom de tudo isso, é que ela adorou seus dois partos, e recomenda parto normal para todo mundo… Logo depois veio o Luca, apressadinho e nasceu algumas semanas antes. A mamãe entrou em TP com 37, quase 38 semanas, chegou ao hospital com 4 cm de dilatação e contrações regulares de 4 em 4 minutos, ao avaliarem o líquido amniótico foi detectado mecônio, e a obstetra indicou a cesárea. Manoella, João Pedro, Geovana e Beatriz nasceram de cesárea, apesar de todas as mamães, com excessão da mamãe do JP e da Beatriz quererem partos normais. Ainda tenho uma amiga que quer parto normal, e está com a DPP para início de setembro, mamãe da Maria Clara . E eu fico aqui, querendo falar, contar, influenciar, mas sinto uma certa muralha quando começo o assunto. Desejo muito, que pelo menos as que desejam um parto normal, consigam te-lo. Gostaria de ter tido mais tempo para conversar com a mamãe do JP para que pudesse ajudá-la com seu medo em relação ao parto normal. Mas não tivemos tempo suficiente… me sinto muito culpada. A mamãe da Manu… se eu tivesse sido mais presente, ela também poderia ter tido o parto normal. E eu continuo assistindo de camarote o desfecho destas gestações que, ou acabaram em cesárea, ou que muito provavelmente acabarão em cesáreas, provavelmente desnecessárias.
Mesmo com toda informação que consegui durante minha busca pelo parto natural, não tenho conseguido influenciar ou ajudar pessoas tão próximas de mim. Pessoas com quem eu me importo, e para as quais eu desejo tudo de melhor, a começar pela ligação que acontece com um filho, pela amamentação que é facilitada e pela recuperação pós parto.
Isto me gera um sentimento de incapacidade, um sentimento de falta de dedicação para explicar a elas como foi maravilhoso parir naturalmente, respeitando todo o processo que meu corpo percorreu. Como foi maravilhoso receber minha filha no colo, sem chorar, imediatamente após ela ter nascido. Como foi diferente, poder pegá-la e amamenta-la sentada, com os braços livres, sem anestesia como ocorreu após as cesáreas as quais eu fui submetida previamente, e sem consentimento.
 Sinto um misto de culpa por não querer ultrapassar a barreira da boa educação e gritar para que elas ACORDEM, mas como disse uma querida amiga que trabalha ajudando mamães com o aleitamento materno, temos que saber distinguir quais batalhas temos que abrir mão. Temos que respeitar. Mas isso não diminui em nada meu sentimento de incapacidade e de culpa.
Sei que sou nova nesse mundo fora da “matrix”. Sei que sofro porque enchergo coisas que a maioria não encherga, assim como eu também não enchergava. Mas estou aqui, tentando mudar a realidade. É dolorido, é cruel ter amigas tão queridas a quem eu não pude ajudar de verdade.
Como soltar a voz que grita abafada dentro de mim? Como mostrar todos os números e evidências que busquei loucamente durante a minha 3a gestação? Como fazê-las entender que o parto é delas, e não do marido ou do médico?
Ainda não sei… e enquanto eu tento aprender, infelizmente o tempo passa, a barriga cresce e é cortada. Enquanto isso, bebês saudáveis de mães saudáveis são extraídos muitas vezes antes do tempo. Mas sigo tentando, conversando, informando, testemunhando. E espero realmente que esse blog e outros tantos, sirvam para ajudar a desabafar a voz abafada que grita em meu coração e no coração de tantas outras mulheres que também passaram pela maior experiência que uma mulher pode passar: PARIR. Sentir seu corpo trabalhando para trazer aos seus braços sua cria mais esperada…

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