Mulher

O perigo que representa um par de seios [naturais]

Por 15 de maio de 20139 Comentários

angelina-jolieO parto deixou de ser um evento bio-psico-social e passou a ser um ato médico, hospitalar e cirúrgico.
Vaginas cortadas, barrigas cortadas, bebês extraídos a ferro. Mudanças que transmitem a mensagem de que o corpo da mulher é falho, frágil e que, portanto, precisa de intervenção e ajuda médica.
Incutiram-nos a idéia de que “sofremos” processos muito perigosos, que requerem muito cuidado e prevenção. Processos de alto risco, que se desenrolam em um corpo tão frágil e delicado: o corpo da mulher.
Acreditamos que seria melhor interromper a menstruação, adiar a gestação e deixar que extraíssem nossos filhos através de uma cirurgia asséptica.
Como se não bastasse, uma nova onda coloca novamente a mulher como ser frágil e defeituoso, dotada de um par de seios que pode levá-la a morte.
Sob nova alegação de segurança e qualidade de vida, médicos estão mapeando genéticamente a probabilidade de mulheres desenvolverem câncer de mama e sugerindo a mastectomia total (retirada de ambas as mamas) e reconstrução de um par de seios novinhos em folha, recheados de silicone. Sim. Se sua mãe, tia materna, irmã teve câncer de mama, você tem um grande risco de desenvolver a doença. Quem quer ter um câncer?
Isso não é novidade. Porém o assunto veio a tona com a notícia de que a Angelina Jolie aderiu ao método radical de prevenção de câncer de mama. Segundo as notícias ela tinha mais de 85% de chances de desenvolver um câncer de mama, e com a cirurgia o risco caiu para 5%.
Quais são os riscos que uma cirurgia  radical como essa envolvem?
Será que as mulheres que  são submetidas a essas cirurgias preventivas sabem os riscos que correm?
Será que vale a pena fazer uma  cirurgia radical por  prevenção? Será, será, será?
Para mim, o buraco é muito, muito mais embaixo.
Assim como a lendária história de Sansão, quando cortaram-lhe o cabelo numa disputa de poder,  hoje cortam nossas vaginas, nossas barrigas, retiram nossos ovários, nosso útero, nossos seios.  Nos amarram, nos anestesiam, nos medicalizam.  A violência contra a mulher, ganha formas veladas sob o pretexto de cuidado médico e preventivo.
Me pergunto se existe algum esforço para diagnosticar a possibilidade de um homem desenvolver um câncer peniano com posterior sugestão de substituição de seu membro viril por uma  prótese de silicone. DUVIDO. Mas o corpo feminino é falho, defeituoso e perigoso. Portanto pode e deve ser mutilado.
E você? O que pensa dessa “nova onda”?

9 Comentários

  • Olavo Barros disse:

    Gisele, boa noite.
    Penso que você está transformando um caso sério de proteção à vida em uma causa da luta feminista.
    Sorte das mulheres que há uma solução estética para a mastectomia total.
    Infelizmente, no caso dos homens, não existe a possibilidade de uma prótese peniana perfeita, como é a feita em mulheres que tiveram que extrair as mamas.
    Logo, Gisele, a comparação entre uma extração mamária e peniana é errada.
    Meu tio teve um câncer nos testículos e sem pestanejar, aceitou a extração de um deles. Foi foda, em absoluto. Mas colocou um prótese.
    E ratifico a opinião da Ritinha Chaves. Se eu tivesse essa chance de ter câncer na próstata, ou mesmo nos testículos, eu faria a substituição sem qualquer problema.
    A vida é mais importante que disputas sexistas e o que a Angelina e milhares de anônimas (e anônimos!) fazem ao redor do mundo na luta contra o câncer deve ser aplaudido, e não politizado.
    Obrigado.

    • Gisele Leal disse:

      Olavo bom dia!
      obrigada por seu comentário!
      Meus questionamentos são exatamente sobre a questão de proteção à vida. Até quando iremos nos submeter às alegações de segurança, proteção e saúde e entregar nossos corpos para serem mutilados?
      Sorte das mulheres que há uma solução estética para mastectomia total? Será mesmo? Eu comparo isso com “sorte das mulheres que o corte da cesárea é feita na linha do biquini”. Sim, porque sempre que há uma “solução estética” para um problema real ou potencial, as cirurgias passam a ser banalizadas.
      No caso dos homens não existe a prótese peniana perfeita. Então me diga. Se não há prótese peniana perfeita e se você fosse diagnosticado com os 87% de chance de desenvolver um câncer de penis (que digamos que seja tão mortal quanto o câncer de mama). Não na próstata ou nos testículos, que não são órgãos ligados a virilidade. Mas no pênis, qual seria sua opção?
      Concordo que a vida é mais importante que disputas sexistas, mas será mesmo que aqui estamos falando da vida? Ou será que o medo da morte é tão grande que não nos permite viver?
      Indico um ótimo texto da Renata Pena, aqui mesmo na Vila para você ler e refletir 😉 http://vilamamifera.com/mamiferas/a-mastectomia-da-angelina-jolie-o-amor-a-vida-e-o-medo-da-morte/
      Abraço, obrigada por comentar!

  • Vasti Alves de Oliveira disse:

    Na Ciência o homem é o descendente do Espírito. O belo, o bom e o puro constituem sua ascendência…O Espírito é a fonte primitiva e derradeira de seu ser; Deus é seu Pai, e a Vida é a lei de seu ser.”
    “A hereditariedade é um tema prolífico ao qual a crença mortal pode atrelar suas teorias; mas, se aprendermos que nada é real senão aquilo que é direito, não teremos heranças perigosas, e os males carnais desaparecerão.”
    (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Mary Baker Eddy, pp. 63 e 228 respectivamente)

  • Lissa disse:

    Achei seu discurso meio exagerado. Os seios não são responsaveis diretos pelo prazer sexual feminino, como é o caso do pênis. O pênis é equivalente ao clitoris, não aos seios.
    Encaro a escolha da Angelina Jolie como um ato de liberdade sobre o seu corpo.
    Acho mais machista a ideia de que a mulher opte por não tirar os seios, mesmo que ela tenha que enfrentar problemas futuros.

    • Gisele Leal disse:

      Independente de ser o principal órgão de prazer ou não (isso varia muito de pessoa pra pessoa), é um órgão ainda sadio. Me preocupa a industria da hiper prevenção sempre com foco no corpo feminino.
      Eu fiz a comparação entre pênis e seios de forma provocativa mesmo, porque no corpo da mulher pode tudo. 😉 Ainda não tive nenhuma resposta masculina de que “sim eu tiraria meu penis se eu tivesse 87% de chance de desenvolver um câncer mortal”. Mas para as mulheres isso parece tão simples, tão banal…
      Vou refletir sobre sua colocação de ser mais machista a idéia de que a mulher não opte por não tirar os seios, mesmo que ela tenha que enfrentar problemas futuros.
      Obrigada por seu comentário 🙂
      grande abraço,

      • Lissa disse:

        Eu entendo. Mas é que se alguém me dissesse pra eu extirpar meu clitóris, responsavel pelo meu prazer, eu me oporia mesmo correndo risco de morrer. Já os seios, ainda que sejam importantes para mim, poderam ser reconstituídos e (acho que) não vai afetar minha sexualidade. Ter cancer de mama é muito traumatico. Por isso, entendo o que a Angelina fez. Acho que não consegueria viver em paz se soubesse que sou propensa ao cancer mamario. No caso dela é muito mais traumatico, a mãe dela morreu de cancer.
        Abraço!

  • Olavo Barros disse:

    Gisele, olá!
    Gostei e pensei muito no seu questionamento: Ou será que o medo da morte é tão grande que não nos permite viver?
    Realmente, para o ser humano comum, o medo da morte é tão enorme que por muitas vezes não permite viver. Mas não vejo o caso da Angelina como isso. Ela não deixou de viver. Ela tomou precauções para que a evolução da vida dela não terminasse em sofrimento.
    Lembro da minha tia, que morreu de câncer. Assumo a ignorância, mas não sabia que o ser humano podia chegar em um nível físico tão fraco e debilitado. E penso que a Angelina fez isso, vide um grande sofrimento que ela viu a mãe dela passar, até o precoce falecimento aos 56 anos.
    Em resposta a sua pergunta sobre a extração do pênis sem um substituto estético, eu digo que não a faria analisando tal probabilidade.
    Agora, se houvesse tal prótese peniana, eu consideraria sim tal extração, baseando-me em chance elevada da doença + histórico familiar. Mas assumo que não sei se faria.
    Mas vejo seu ponto como legítimo. Nós homens consideramos sim o pênis de forma mais importante.
    E sem, de forma alguma, menosprezar a importância da mama, vejo o pênis como um órgão mais fundamental, visto que sem ele não há reprodução da espécie e sem a mama, não existe este impedimento. (por favor, não entenda isso como sexismo, porque absolutamente, não é!)
    A sua comparação com a cesárea me parece um pouco radical. Sou contra essa cesária doentia e cotidiana que a modernidade impôs. Minha namorada me entristece ao falar que quer, no futuro, dar a luz através de cesárea. Entretanto, vejo que a Angelina não fez a cirurgia simplesmente pelo “conforto” de não sentir “a dor do parto”; fez, com absoluta certeza, para evitar a terrível dor do câncer.
    Obrigado pela resposta!

  • Vitória disse:

    Desculpe-me mais,quais são os riscos que elas correm? você perguntou e acho que deveria ser você a responder,só me pergunto se esses riscos são maiores que a probabilidade dela desenvolver o câncer.

    • Gisele Leal disse:

      Qualquer ser saudável que submete-se a um procedimento cirurgico corre riscos não é? Risco de ter uma embolia pulmonar por efeitos da anestesia, risco de ter complicações, paradas cardíacas, respiratória, precisar de reanimação. Risco de infecção. São vários riscos, falando de maneira genérica sobre qualquer procedimento cirúrgico.
      Então deixo aqui uma reflexão: vale a pena submeter-se a riscos eminentes de complicação em uma cirurgia (inclusive podendo ir a óbito) por uma doença que ainda nem existe?
      Me preocupa a banalização de procedimentos cirúrgicos e mutilantes em corpos femininos sob o discurso da prevenção. Além das questões sociais, sexistas, há ainda a questão da indústria da hiper prevenção que daria um outro post enorme e polêmico.
      obrigada por seu comentário. Abraço

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