Parto

Mais de 30 anos de atraso

Por 16 de janeiro de 2014Sem comentários

No Brasil, há alguns anos, vem acontecendo um movimento pela humanização do parto. Mas está a passos de tartaruga, e algo que deveria ser o corrente (afinal as evidências científicas mais atualizadas, as recomendações da Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde já provaram ser o melhor e mais seguro),  é a exceção e é para quem pode pagar por uma equipe humanizada (que são raras).
Muito se discute sobre os valores que essas equipes cobram, e com isso não chegamos a lugar algum. Não fazemos avanços e o que poderia já ser um direito de TODAS as mulheres de TODAS as classes sociais, continua sendo privilégio de poucas.
Um ponto é unânime: A humanização te que ser direito de TODAS as mulheres e bebês, independente se é SUS ou se é particular. Essa é uma luta pessoal de algumas pessoas (minha inclusive, desde que comecei neste meio). Felizmente temos pessoas no movimento que se mobilizam politicamente, fazem contatos, propõe leis, entram com ações sobre violência obstétrica fazem o que podem e o que não podem para que as mulheres tenham seus direitos respeitados.
Durante a gestação, as mulheres que buscam informações e percebem o quanto o modelo de assistência obstétrica está ultrapassado (e até perigoso!), se informam, se empoderam e “brigam” por seu parto. Mas só enquanto estão grávidas. A maioria, depois que o bebê nasce, esquece tudo isso. E aí, não há movimento ou demanda suficiente para pressionar pela mudança. Se todas que já passaram por esse processo e todas que vão passar empunhassem a bandeira para sempre, até que a realidade mude, não importa se demore 5, 10 ou 20 anos, a coisa seria diferente. Mas em geral o que vemos nos grupos, nas redes sociais, é uma reclamação de que o parto é caro (é é mesmo, eu fiz rifa, fiz vakinha e tive um descontão da minha equipe) e inacessível a tod@s. E aí vem aquele velho discurso de classe, para apontar o parto humanizado como elitizado.
Por outro lado, as mesmas pessoas que criticam o movimento dizendo que ele é elitista, esquecem que muitas das pessoas que atendem no modelo humanizado trabalham de graça para que mudanças ocorram. E essas pessoas que criticam, curiosamente não participam do movimento. Não fazem mobilização, não participam dos atos, não entram com ação para garantir seus direitos (na defensoria publica mesmo por exemplo) e isso resulta numa lentidão de todo processo que envolve o movimento por mudanças.
birthrallyHá quase 32 anos trás, um movimento na  Inglaterra forçou a classe médica a repensar a forma como as mulheres devem (podem) dar a luz.
Em 04 de abril de 1982 mais de 6.000 pessoas viajaram de todo o país para Hampstead Heath, no norte de Londres para defender o direito da mulher a dar à luz em qualquer posição que ela escolhesse. Foi um momento chave no que ficou conhecido como o Movimento Parto Ativo.
A ação foi motivada por uma disputa no Royal Free Hospital de Hampstead, quando uma mulher tentou dar à luz em quatro apoios. Ela foi convidada a assinar um termo durante a fase final do trabalho absolvendo as parteiras de toda a responsabilidade. No final, ela cedeu e deu à luz na posição ginecológica.
Na época, era uma prática comum em todo o Reino Unido para as mulheres em trabalho de parto dar à luz deitada em uma cama de hospital. Qualquer outro método era seriamente desencorajado.
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Aqui a gente conseguiu reunir na Marcha do Parto em Casa em 2012 (dá uma googlada que vc marcha do parto em casavai ver), pouco mais de 5000 pessoas espalhadas pelo Brasil inteiro, um país continental. Foi bonito, foi emocionante, mas não fez o volume, não criou a pressão que poderíamos. Entendem onde quero chegar?  O quanto somos coniventes (TODAS NÓS) com esse modelo de assistência obstétrica quando nos indignamos com o que acontece mas não fazemos nada pela mudança. Ou quando fazemos pouco pela mudança.
Por outro lado, como já ganhamos! Como já conseguimos mudanças e conquistas! Só para quem pode pagar? Mas não é assim que começa? Quando a epidemia de cesárea começou, era pra quem podia pagar (aliás é até hoje pq as mulheres do SUS que não querem sofrer violência obstétrica reclamam que só quem pode pagar é que tem cesárea!). Então as pessoas que podem pagar e pagam, estão gerando demanda de profissionais (mais profissionais aparecem todos os anos no Brasil com a proposta de assistência humanizada) e estão gerando consciência coletiva. Sim. quando uma mulher que pode pagar tem um parto em casa e sua vizinha, sua diarista, sua cunhada fica sabendo, isso gera conhecimento coletivo. Traz uma nova realidade desconhecida para o consciente. E isso aos poucos vai gerar demanda. Então eu 1307 Carol e Teresa2desejo fortemente que todo mundo que pode pagar tenha um PD ou um parto humanizado lindo e que conte isso aos mil ventos. Gerando desejo em todas as classes sociais. Para que haja DEMANDA. Não há mudança sem DEMANDA. E hoje é muito pouca gente que gera essa demnada pela humanização
Por outro lado, eu desejo que quem pode pagar e quem não pode pagar, unid@s pela mudança. Eu desejo ver uma passeata lá em Brasilia na praça dos 3 poderes. Um acampamento, um manifesto de 3 dias, pacífico, silencioso, com nossas barrigas e bebês nos nossos peitos. Sim, eu gostaria de ver uma mobilização nacional com milhares e milhares de pessoas pela mudança.
Eu desejo ver tod@s nós escrevendo cartas, emails, artigos para que a mudança ocorra.
gisele leal leci brandãoEscreva pra seu deputado, pra seu vereador, para o Ministro da Saúde. Para o Senador que você votou.
Eu quero ver você não ter que fugir para outra cidade em busca de uma assistência pela qual você tem o direito.
Eu quero ver você encarar o sistema, entrar com ação cautelar por assistência baseada em evidência, assim que você pegar o seu positivo no laboratório.
Eu quero ver você, que sofreu violência obstétrica de qualquer gênero, entrar com ação por lesão corporal, por maus tratos e por violência institucional. Não importa o resultado. Quero ver uma chuva de processos nas mesas dos Juizes. 
E por isso, deixo aqui um convite a todas para refletir em como cada uma de nós pode ajudar o movimento, como cada uma de nós pode mobilizar e mudar a nossa realidade.
Eu anseio pelo dia em que todas as mulheres de todo nosso país possam ter uma assistência digna, respeitosa, com base em evidências científicas e que todo bebê nasça com respeito e amor. E carinho. Porque é assim que tem que ser. É assim que acontece nos países cujos indicadores de saúde mostram excelentes resultados no cuidado materno-fetal.
 

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