Relatos da DoulaRelatos de Parto

E o sonho se realizou…..Thomas chegou!

Por 27 de abril de 20126 Comentários

Leticia e Danilo foram um verdadeiro Casal 20, juntos no propósito de oferecer ao seu primeiro filho a melhor forma de nascer. Talvez eles, por serem tão jovens, nem saibam o que era o Casal 20 hehehhe.

Leticia me ligou em fevereiro. Ja estava com 30 semanas e a data provavel do parto coincidia com um curso que eu faria no Rio de Janeiro por 3 dias. Como eu e outras duas doulas trabalhamos em equipe, expliquei a ela que caso ela entrasse em trabalho de parto nesses dias que eu estivesse fora, uma das outras duas doulas que atuam em equipe estaria com ela, caso ela realmente optasse por meu acompanhamento. E assim foi!

Letícia e Danilo, que agora já são Le e Dan (risos), participaram de encontros sobre gestação e parto consciente, se informaram. E um desses encontros conheceram as outras doulas.

Estiveram no II Encontro de Humanização da Assistência ao Parto em Sorocaba, ouviram ícones da humanização palestrar.

Às 36 semanas, o destino os colocou à prova: Thomas ainda estava sentadinho. A obstetra então apresentou a eles a opção de realizar a versao externa cefalica (VCE) se ele continuasse pélvico até a 37a semana.

Nesta semana tentaram acupuntura, exercicios, tudo o que puderam. Thomas permaneceu sentado.

Na consulta de 37 semanas, a obstetra os acompanhou até o hospital onde uma outra obstetra em São Paulo, faria a versão. E lá foi o casal 20. Empoderados, confiantes, decididos. Não foi facil.

A Leticia ficou tensa, nervosa, pois recebeu uma analgesia para a realização do procedimento e não sentia as contrações que a equipe dizia que ela estava tendo. Teve medo de entrar em trabalho de parto ali, assim anestesiada, por causa do procedimento, sem sentir nada.

Danilo acompanhou, firme e forte. Mas tambem cicou tenso com o procedimento. Foi ali que eles tiveram certeza, do quanto queriam um parto natural. Do quanto uma cesárea não fazia o menor sentido para eles.

Mas as contrações aos poucos se espaçaram até que sumiram.

Os dias passavam, eles que moram em uma cidade pequena tiveram que lidar com a ansiedade de todos. E a cada dia a pressão de amigos e familiares aumentava conforme os dias passavam.

Estive na casa deles durante uma tarde inteira quando Letícia completou 38 semanas. Lá conheci Fernanda, sua amiga que já havia tido um parto natural hospitalar, e que também gostaria de acompanha-la. Falamos sobre o plano de parto. Foi uma tarde muito gostosa. Quando cheguei em casa, recebi um torpedinho da Le dizendo que ela estava mais tranquila depois do nosso encontro. Foi muito gostoso mesmo!

Mas os dias passavam, e a data de eu ir para o Rio se aproximava. Eu tinha certeza que independente do meu acompanhamento Leticia pariria. Ela estava muito concentrada. Mas quando a gente cria um vínculo, é muito gostoso poder participar do parto também.

E eu fui. Nem sinal de que Thomas quisesse chegar. Mantivemos contato por celular, ela continuou vida normal, trabalhando. Voltei do Rio do curso com a Janet Balaskas inspirada, com várias técnicas de relaxamento prontas para mostrar pra Leticia.

Cheguei por volta de 5 da manhã em Sorocaba. Fui pra casa e pensei: vou descansar hoje o máximo que eu puder, porque se a Letícia me chamar estarei inteira!

E assim foi. Na madrugada do dia 17 de abril, com 40 semanas e 2 dias, as 2:22 Letícia me ligou. Estava com contrações com espaço de mais ou menos 5 minutos, as vezes 10, as vezes 7. Pedi para que ela fosse para o chuveiro, ficasse sobre a bola, por pelo menos uma hora e me ligasse depois. Mas eu não consegui relaxar. Então fui tomar um banho, arrumar minhas coisas e saí. Parei para abastecer, e quando estava saindo do posto, ela me ligou dizendo que o chuveiro tinha feito as contrações espaçarem. Disse que achava que não era nada. Eu então, disse que iria mesmo assim, pois se não fosse nada mesmo eu voltaria, afinal ela iria parir em outra cidade e seria interessante sair de Cerquilho ainda no começo do trabalho de parto ativo para que a viagem não fosse muito desconfortável.

Cheguei em sua casa por volta de 4 da manhã. E logo pude perceber que era mesmo trabalho de parto. Início da fase ativa. Contrações regulares de 5 em 5 minutos, que duravam um minuto em média. O Danilo estava dormindo e a Letícia estava incrivelmente bem humorada, tranquila e ainda desacreditando que era mesmo o trabalho de parto.

Conversamos, treinamos a respiração profunda, em cada contração, Letícia se concentrava, relaxava e respirava profundamente a cada nova onda.

Mas o processo estava indo muito rápido e ela muito, muito tranquila.

As 4:40, embora ela estivesse muito bem, sugeri que acordássemos o Danilo para arrumar o carro e seguirmos viagem. Pois as contrações estavam cada vez mais intensas. Fiquei na dúvida se era a hora mesmo, porque ela estava muito, muito tranquila. Mas ela concordou em irmos. Então acordou o Danilo e ligou para a Fernanda. Mandei uma mensagem para a obstetra dizendo que chegaríamos em Campinas por volta de 6:30 ou 7:00.

Enquanto eu ficava com a Le, Danilo e Fernanda organizaram as coisas para seguirmos. Saímos de Cerquilho de 5:50 da manhã.  A obstetra ligou e disse que estava num outro hospital, diferente do planejado para irmos, e que preferia que a Leticia passasse lá primeiro para que ela avaliasse.  E assim fizemos. Apesar das contrações estarem regulares, Letícia ainda estava muito bem. Ainda conseguia conversar, rir, raciocinar..risos

E Leticia entrou na fase ativa mesmo, quando estávamos próximo a Indaiatuba,  durante a viagem, quase chegando em Campinas. Foi pra Partolândia de mala e cuia. Se entregou. Se concentrou. Foi uma linda entrega.

Chegamos no hospital às 7:10 da manhã, e por obra e graça do destino, conseguimos entrar direto sem sermos barradas. Encontramos a Dra. Mariana lá na sala de atendimento. Contrações super fortes, regulares, colo fino como um papel e 7 cm!

Letícia entrou no banheiro da sala de atendimento, e ali ficou concentrada. Não queria mais sair. Pedia por um chuveiro. Mariana ainda perguntou se ela queria ir para a maternidade onde haviam planejado o parto, pois daria tempo. Mas ela não quis. Danilo então providenciou a internação no hospital onde estávamos, e assim que chegou a chave do quarto subimos.

Liguei o chuveiro para ela, enquanto enfermeiras e mais enfermeiras entravam e saíam do quarto sem que entendessemos o porque.  Mariana prescreveu a penicilina, pois Letícia havia tido um episódio de infecção urinária pro Streptococus B.

Assim que a penicilina acabou de correr, Leticia foi pro chuveiro. Não cabia uma bola no chuveiro, então ficou num banquinho. Depois não quis mais o banquinho, e ficou de joelhos, numa posição mais verticalizada. Fernanda colocou toalhas na janela, para que pudéssemos deixar o banheiro mais aconchegante pois estava muito claro.

Não passou meia hora, Letícia começou a sentir os puxos e instintivamente fazia força. Foi quando a Mariana entrou no quarto e verificou que estava com dilatação total.

Fui colocar a roupa para poder ir pro Centro Obstétrico (CO), e quando voltei apenas Fernanda estava no quarto. Todos já haviam subido. Era umas 8:30 da manhã.

Encontrei Danilo na sala de espera do lado de fora do CO e Letícia lá dentro. Sentada sobre o banquinho de parto, envolta num lençol que já estava todo molhado. Ajudei-a a tirar o top que estava molhado e troquei o lençol no qual ela estava envolta, na tentativa de aquece-la. A sala estava gelada, o ar-condicionado não desligava por nada. E ela estava com muito frio, e tinha se retraído toda por causa do frio. Danilo logo entrou, e eu peguei um cobertor no armário do corredor para colocar na Letícia. Aquele ar estava mesmo muito forte. Tanto o Danilo quanto eu, esregávamos nossas mãos nos braços e pernas dela para que ela esquentasse. E aos poucos ela foi esquentando, e relaxando.

Foi tudo muito rápido. Acho que o relato da Le vai ser muito diferente do meu, porque ela estava mesmo muito mergulhada em todo o processo. Não sei se ela se deu conta do entra e sai que foi naquele CO. Eu acho que não. Ela estava lindamente concentrada e nada parecia tira-la dessa concentração. Era a menina se transformando na mulher. Ali naquele momento, todos os esforços para que o Thomas ficasse cefálico tinham valido a pena. Faltava muito pouco. E ela sentia vontade de fazer força, e fazia. A obstetra Mariana então sentou à sua frente, e ia encorajando-a, falando que já estava vendo o cabelinho do Thomas. Danilo ficou atrás dela, sentado numa escadinha e apoiando-a pelas costas.  A todo momento, os batimentos cardíacos do Thomas estavam ótimos. Ele recuperava rapidinho a frequencia após as contrações. E em menos de 20 minutos, sua cabecinha coroou. (Aqui faço um parentese. A neonatologista exclamou aliviada: “Nossa está cefálico!” . Ela tinha olhado o ultimo US que a Leticia havia feito e ele estava pélvico. Aí entendi o porque ela estava tão tensa… risos).
E em mais algumas contrações, toda a cabecinha nasceu. Na outra contração, as 09:05 da manhã do dia 17 de abril de 2012 Thomas nasceu banhado por uma enxurrada de líquido amniótico. E ele nasceu muito rosinha apesar do frio da sala. E chorando muito forte! Foi um momento de grande emoção. Mariana então o entregou para Letícia que olhava incrédula para seu bebê. E neste momento ele parou de chorar e apenas ouviu a voz de sua mãe. Com olhões bem abertos. Danilo preocupou-se em aquecê-lo, colocando parte do cobertor que estava nas costas da Letícia sobre o Thomas. E ali ficaram os três. Envoltos na bolha que se forma quando um bebê nasce e já vai para o colo da sua mãe. Nenhum outro som era ouvido naquele momento. Apenas a respiração do recém-parido Thomas e seus pais. E ele nasceu lindo. Um meninão, grande, rosa e lindo. Com cabelo claro e ralo e com unhas compridas 🙂

Letícia foi uma mulher forte e guerreira. Não desistiu de seu sonho mesmo quando Thomas permaneceu pélvico (sentado). Usou de todos os recursos possíveis, dos mais naturais à versão externa para que ele pudesse nascer de uma forma respeitosa. E conseguiu.

Aqui deixo uma observação do quanto uma  equipe completa é importante: Leticia e Danilo tinham planejado uma pediatra humanizada para receber o Thomas. Mas o destino acabou conduzindo-os para um hospital onde essa pediatra humanizada não tinha cadastro para atuar. E apesar da neonatologista do hospital respeitar o desejo de não fazer nenhuma intervenção no Thomas (aspiração, vitamina K injetavel, etc) acabou separando mãe e bebê para cuidados que poderiam perfeitamente terem sido feitos no colo da mãe. Por um período curto de tempo, porém exageradamente longo quando não se há necessidade.

Leticia e Danilo, adorei conhecer vocês , assistir a consolidação dessa família linda que vocês formaram. Adorei. Adorei participar da transformação da filha-mulher em mulher-mãe muito empoderada. 🙂

Foi muito, muito lindo. Partos assim são como presentes. Nos energizam, nos dão ânimo para continuar lutando por um modelo de assistência mais digno para todas as mulheres.

Minha gratidão eterna, a vocês.

6 Comentários

  • Letícia G. Albino disse:

    Giiiiiiiiiiiiiiiii, que lindo!!!
    Nem acredito que é de mim que vc escreveu!!!kkkkk
    Imagine que minha mae e irma estavam aqui me ouvindo ler o relato e chorando horrores de emocao!!!
    Amei, amei tudo e vc sabe o quao essencial foi p/ nós naquela dia TÃO ESPECIAL. A chegada do meu Thomas foi feita de, partes que eu nao lembro kkkk e apesar dos emprevistos “chatos”, foi maravilhoso… só tenho a agradecer a vc e a Dra Mariana (a Fe tb) e claro ao Danilo que ficou comigo e se empenhou mto p me dar força sempre!!!
    Nao vejo a hora de encontrar vc de novo…agora com o Thomas nos braços!!!
    Abencoada seja sua “profissição” que encoraja da melhor maneira possivel mulheres num momento tao singular!!!
    bjoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo
    p/ sempre sua doulanda Letícia!

  • Letícia G. Albino disse:

    Ps: amei a foto tb…. desculpa nao mandar as outras, mas ainda estamos sem net e o note do Dan ta enfiado la em casa!!! sempre esqueco de pegar!!! bjo

  • Clélia Maria Lizer Grando disse:

    Gisele, acho que posso te chamar assim, afinal vc já faz parte da familia……ajudou a trazer a maior riqueza da minha vida, o filho do meu filho. O meu neto. Graças à Deus, ele veio, perfeito, forte ,lindo e com muita saúde.
    Eu não a conheço, mas admiro muito o seu trabalho, a dedicação e o amor e confiança que vc passa para as mamães de primeira viagem. Quero conheçe-la.
    Qdo nasci, tbm tive uma Dola, só que na época eram chamadas de Nona, e até hoje me lembro com carinho dela.
    Quero dar os parabéns e agradecer tudo que vc fez pros meus filhos , O Dan e a Lê, que como vc mesma disse foram firmes e fortes e quanto a Lê…..uma guerreira…….tenho o maior orgulho dela.
    Beijos e obrigada pela palavras de carinho que me fizeram emocionar muito.
    Clélia

  • Pathy Lopes disse:

    Ai Gi, que lindo e que saudade. Mais uma vez vc foi maravillhosa no relato e na doulagem né?. Beijos

  • Andressa Thomaz Peralta disse:

    Gi, que lindo! Eu que não sou chorona…não choro facil de jeito nenhum…to aqui aos prantos com esse lindo relato…felicidades aos pais!!!! Que benção!!! Bjks Andressa Thomaz Peralta

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